Até então, tenho comentado, em linhas gerais, aspectos históricos flagrantes que denunciam a natureza e origem maligna do cristianismo.
Ao estudarmos a fundo sua história vamos nos deparar com eventos semi ocultos, decepcionantes e vergonhosos, para dizer o mínimo. Pesquise e leia os comentários de outros pesquisadores que trazem consigo preferências diferentes da sua. É certo que sempre haverá uma tendência, em particular, que moldará as visões de pesquisadores, mas é esta tendência que revela os detalhes e aspectos que não nos despertou ou estimulou a pensar e analisar. É ditado comum o dizer: “se quiser saber o que pensam de você, ouça a teu inimigo, pois ele vem te estudando, te analisando há tempo e não está interessado no teu lado bom”.
A partir de agora, quero apresentar uma doutrina e conceitos relacionados, perpetrados no cristianismo que considero sendo a mais destrutiva ao plano de salvação dos homens. É a doutrina do “homem de Deus”.
Com base nesta doutrina é que foi construída a autoridade eclesiástica e toda estrutura hierárquica no cristianismo.
Que o Senhor abra os ouvidos do leitor para que possa ouvir.
Antes de tudo, precisamos criar um deus, um ser que seja superior a qualquer ser humano, dotado de poderes imensuráveis e que goste de ter infinitos servos à sua disposição. E também que nos ofereça proteção e abundância.
Esta tarefa é fácil pois qualquer coisa pode ser tornada um deus, assim como para o vinho havia o deus baco, para a riqueza o deus mamom, para os Efésios, diana ou ártemis, e assim por diante.
Os gregos, romanos e bárbaros criaram muitos deuses. Os católicos criaram os homens santos. Os protestantes criaram os pais da igreja e os mártires. É interessante que, e acho até que não é de nos admirarmos, quase sempre, esta iniciativa partia daqueles que eram proeminentes, tais como reis, imperadores, sacerdotes, heróis e fundadores religiosos.
Após criarmos o deus será necessário providenciar alguém que se envolva com as necessidades deste deus. Então, é necessário compor um grupo de sacerdotes para ser a ponte entre o deus e seus futuros crentes. Já que o deus não fala, alguém tem de ensinar aos crentes a reverência devida a ele, o temor e a punição para quem o desobedecer, os benefícios oferecidos a quem o obedecer, enfim, toda uma doutrina de devoção, ou melhor, servidão ao deus.
Veja bem, caro leitor, como é que as coisas acontecem. O processo é sempre o mesmo, sempre foi assim, desde os primórdios da humanidade e ainda hoje se faz do mesmo jeito.
Pois bem, este será o tema que iremos tratar neste tópico.
Sem dúvida, de todas as doutrinas, conceitos e derivações inventadas pelo autor do cristianismo, e disseminada por seus instrumentos humanos, a autoridade eclesiástica, ou homem de Deus, é a doutrina mestre e raiz de toda a distorção do Evangelho do Senhor Jesus. Ela se desenvolve no sentido contrário ao primeiro mandamento de Deus que vemos na Lei de Moisés, e que o Senhor também nos lembrou (Dt 6:5;11:1; Dn 9:11; Mt 22:37; Mc 12:30).
O Senhor Jesus ensinou a seus discípulos um dos princípios do reino dos céus que é o da justiça, ou em outras palavras, da igualdade, da equidade (Mt 20:25-28; Lc 22:24-27). Paulo, por sua vez, vem confirmar este princípio, aplicado na igreja (2Co 8:12-15).
Já desde lá, podemos ver qual é a maior fraqueza ou o motivo pelo qual o ser humano é errante e que o trouxe para este mundo terreno: a ânsia pelo poder. Em outras palavras, a prática da injustiça.
Na igualdade, na equidade, todos tem o mesmo valor, todos são iguais, todos têm o mesmo peso na balança. Quando há a busca pelo poder, surge um peso maior do que os demais e a balança da justiça denuncia a desigualdade, a injustiça.
O maligno, conhecendo a natureza humana e sua fraqueza, não poderia deixar de usa-la para ter sucesso no seu plano de destruição. Por meio da ânsia apóstata que ele incitou na igreja original, levou os crentes a dar mais consideração à posição proeminente de seus líderes locais e a considera-los autoridade espiritual, ou homens de Deus. Estes são o peso maior na balança.
De certa forma, Paulo acabou sendo usado para contribuir com esta reação, já que ele foi o homem de Deus que levou a mensagem do Senhor e que mostrava sinais da supremacia e soberania de Deus aos olhos humanos dos gentios, acostumados à adoração passiva e deuses inativos. Ele também reforçou a honra e a consideração que todos deveriam prestar para com os presbíteros e cooperadores, dando margem a um comportamento seletivo para com alguns (At 28:10; Rm 2:7; Fl 2:29; 1Tm 5:17).
A doutrina maligna do “homem de Deus” continuou agindo e se estendendo, silenciosamente e sorrateiramente, ganhando corpo eclesiástico institucionalizado.
Uma simples análise do termo é suficiente para vermos que, se o homem está no meio, seguramente, não pode ser de Deus. Se o termo fosse profeta de Deus, ou mensageiro de Deus, ou enviado de Deus, bom, haveria alguma chance de poder ser de Deus.
Assim, por dois mil anos o cristianismo vem produzindo uma série infinita dos chamados “homens de Deus”, conhecidos como “pais da igreja”, ou nos dias de hoje, como influenciadores de púlpito, pastores, pregadores e outros, simplesmente por trazerem uma “luz” diferenciada sobre um conceito, ou princípio, encontrado na bíblia. Esta luz diferenciada foi, e é ainda, exaltada ao status de revelação, como se proveniente de inspiração divina, e acabou sendo dogmatizada, convertida em doutrina de fé cristã.
A doutrina “homens de Deus” promoveu divergências na crença do povo e de seus líderes, e acabou sendo a causa de separação e segregação do povo, resultando no surgimento de novos grupos religiosos, ou religiões. Toda vez que um novo homem de Deus surgia, trazia uma nova doutrina, ou uma nova interpretação, e um novo grupo se formava.
Devemos e temos de entender que aquele a quem é chamado de homem de Deus só o pode ser se for escolhido, direta e explicitamente, por Deus, para o Seu serviço, segundo o Seu propósito, executando o Seu padrão ou forma de proceder, no Seu tempo ou lugar onde Ele quer agir.
O homem de Deus é um instrumento em suas mãos; é o barro nas mãos do oleiro; é um bisturi nas mãos do cirurgião. Assim como um bisturi apenas se move pela mão do cirurgião, segundo seu intento e propósito, assim é aquele que é escolhido por Deus para O servir. Tanto o vaso quanto o bisturi não pensam, não decidem, não escolhem, não selecionam, não tem livre agência.
Assim foi a vida dos profetas, escolhidos e chamados por Deus. Eles não tinham vida própria, pois o Senhor os usava dia e noite. Muitos sequer tinham família, ou podiam ocupar-se com os afazeres de família. Muitos foram perseguidos, ultrajados, humilhados e mortos, simplesmente porque, ao abrirem a boca, a Palavra de Deus era proferida, em repreensão, seguida de julgamento, punição e rejeição, por causa do estado pecaminoso que o povo se encontrava. Muitos precisaram viver fugitivos, escondidos em cavernas, famintos, exaustos, sujos, quase nus, e mesmo assim, ousavam se expor para levar a Palavra de Deus ao povo, cientes de que poderiam ser mortos a qualquer momento, porém confiantes de que o Senhor estava com eles e que Sua vontade deveria ser soberana. À vista dos homens eram reconhecidos e honrados como homens de Deus, porém, na sua essência, eram instrumentos, mensageiros, embaixadores de Deus.
Paulo diz que o homem de Deus é aquele que foi renovado, justificado e santificado por Deus (Ef 4:24). Quero frisar que é segundo Deus, segundo Sua avaliação, Seu critério, Sua justiça e Sua ação.
O que vemos, no entanto, no mundo religioso cristianizado não tem nada a ver com isto. O que vemos é que basta um indivíduo concluir um curso de teologia, ou um seminário, para poder ser ordenado por um homem qualquer, a ser uma autoridade espiritual, ou homem de Deus, formado para estar à frente de um grupo de indivíduos.
Vemos, ainda, que mesmo qualquer indivíduo pode se levantar à frente de um grupo e ser aceito, considerado, honrado, quando não autoproclamado, homem de Deus. Isto tem sido considerado como normal por todos os “conhecedores” do Evangelho que não tem ouvidos para ouvi-lo.
O cristianismo nos aprisionou no conceito de que a Palavra de Deus pode ser dada aos, ou vir por meio de homens considerados de Deus por causa de seus comportamentos, atitudes, conhecimentos e obras. Este conceito, no entanto, não é conforme os ensinamentos do Senhor Jesus e apenas demonstra cegueira ao Seu Evangelho, pois ele nos ensinou que a Palavra de Deus veio por meio dele e é suficiente para a salvação de todos os que nela crerem.
Ela é vida eterna, pois veio de Deus Pai. Ela não é um discurso inflamado, repleto de elementos emocionais, sem vida, que sai da boca de homens (Jo 8:28; 12:50; Mc 1:15; Hb 1:1).
Nenhum homem está na mesma condição do Senhor Jesus, que era qualificado, pois foi quem fez o mundo e se tornou herdeiro de tudo, irradiava o resplendor da glória de Deus, a imagem expressa de Sua pessoa e cuja palavra tinha poder capaz de sustentar todas as coisas, que em si mesmo proveu a purificação dos pecados da humanidade e assentou-se à destra da majestade nas alturas (Hb 1:1-3).
Quem acha que pode se comparar com o Senhor está se colocando no lugar do Filho e, portanto, é anátema, é um falso profeta, é um profeta do maligno, é um anticristo.
Homem de Deus não é aquele que fala sobre as coisas de Deus, ou discursa sobre Deus, ou busca envolvimento com atividades relacionadas a Deus. Se alguém se considera um homem de Deus, porque assim deseja ser, porque procede desta forma, se ocupa com atividades religiosas concernentes e, ainda, aprecia tal reconhecimento, este está fazendo de si um profeta do maligno, porque pretende ser e agir como o escolhido de Deus, quando não o é.
O homem de Deus não é levantado por homens e, portanto, não depende da consideração dos homens para que o Senhor possa usá-lo como um instrumento em suas mãos.
A consideração humana é baseada no conhecimento intelectual e no preparo acadêmico, ou na conduta, na atitude comprometida e na qualidade ou capacidade de persuasão do discurso, atributos manifestos pelo comportamento exterior, ou seja, no palpável e aparente. Ela não é capaz de ver o interior do homem, o intangível, o que está no seu coração. Portanto, a consideração humana é vítima fatal do engano, e grande máquina promotora da hipocrisia (Lc 16:15; At 15:8).
Quando o Senhor levanta ou usa um homem como seu instrumento, por meio do seu Espírito, ele o faz porque conhece o seu coração, o seu comprometimento com a Sua missão, em vez de comprometimento com planos humanos, mesmo sendo planos religiosos. Ele não olha para o seu conhecimento, sua qualificação acadêmica, sua inteligência, sua notoriedade, ou aparência, e não precisa que o Seu instrumento seja assim dotado. Ele, também, não precisa qualifica-lo, ou desenvolver as suas capacidades e habilidades humanas, para que este possa executar o Seu serviço. É o Seu poder revestindo o homem que realizará o sobrenatural. É o Seu Espírito agindo no homem quem realizará a Sua obra, obra tal que nenhum ser humano é capaz de realizar, e colocará na sua boca o seu testemunho, vindicando o Seu instrumento (1Co 14:36).
O Seu instrumento não se apresenta com um rótulo, ou título mencionando a sua posição ou condição, antes de se identificar pessoalmente. Na verdade, não é necessário que se identifique, pois a manifestação do Espírito é quem vai identifica-lo como sendo de Deus.
Compare com todas as apresentações dos apóstolos, em suas cartas.
Ele não ousa abrir a sua boca para falar o que pensa, ou acredita, ou o que aprendeu. A sua boca é aberta pelo Espírito e dela sai o testemunho de Jesus Cristo, o espírito de profecia, manifestando os propósitos e intenções dos corações dos homens, revelando o pecado, a hipocrisia. Não importa se ele pode ser, ou não, considerado como de Deus, pelos homens, por causa dessa unção e do testemunho dado. Esta consideração, esta avaliação humana é irrelevante, desprezável e desprezível. É Deus quem lhe dá o aval e o comprova, pois é seu Espírito que testifica, que ilumina e revela a verdade. Portanto, sempre, e não poderia ser diferente, na vida do homem de Deus, será Deus quem age, quem realiza, nunca o homem (At 15:15; Mc 12:14; Jo 5:36, 10:25; At 15:8; Rm 8:33; Ap 12:17; 19:10; Hb 4:12).
A fé em Jesus, a santificação que vem pela presença do seu Espírito, quando habitamos nele, e a palavra do seu Evangelho que vem pelo seu Espírito, é quem faz de todos nós, potenciais homens e mulheres de Deus, vocacionados para a Sua Obra. Esta é a nossa honra. Esta é a honra de todos os verdadeiros crentes no Senhor.
A vocação diz respeito à chamada para a manifestação dos dons que ao Espírito Santo aprouver doar, cada um sendo manifestado no lugar que ele indicar, no momento requerido por ele, pela forma determinada por ele e pelo instrumento escolhido por ele. Tem de ser assim, porque os dons pertencem a Ele e Ele os distribui para o que for útil, segundo o Seu beneplácito (1Co 12:7).
No exercício da vocação, o homem de Deus age impelido pelo Espírito, e não, pela vontade natural do homem. Não é por opção, escolha ou desejo humano (1Co 1:26-27; 12:4-7; Ef 4:12; 1Ts 1:11; 2Tm 1:9).
Assim, todo aquele que se intitula pastor, ou padre, ou qualquer título de autoridade espiritual, está assumindo duas atribuições que não lhe pertencem.
Primeiro, é um impostor, porque se apresenta com a atribuição do verdadeiro. Veja bem, eu não disse que ele se apresenta no lugar do verdadeiro. Eu disse, como sendo o verdadeiro.
Seguindo o mesmo conceito, como nosso Pai que está nos céus é o nosso único Pai, qualquer que se apresente como sendo pai está usurpando da autoridade do nosso verdadeiro Pai, pois está se colocando na posição do verdadeiro, chamando para si o olhar que não lhe pertence, o foco, a atenção e o comprometimento a si dispensado que pertence a outro, ao verdadeiro Pai (Mt 23:9).
Em segundo, é um falso profeta, porque se apresenta com a atribuição do verdadeiro, ou seja, como sendo um mensageiro de Deus, aquele que é enviado por Deus, quando não o é. É falso profeta, pois atribui para si a função de porta voz de Deus, quando não foi chamado, separado e enviado por Deus com esta atribuição, não foi revestido por Deus com os requisitos que Ele exige e não carrega a vindicação dada por Deus. Em outras palavras, não traz, juntamente com a mensagem, as evidencias sobrenaturais que são pertinentes e só concedidas por Deus àquele a quem envia, para a comprovação do caráter divino e espiritual da chamada e da mensagem.
Temos e devemos considerar que a ninguém Deus deu autoridade sobre a face da terra para ser seu porta voz, a não ser a seu Filho Jesus, a quem deu o seu Evangelho e todo poder no céu e na terra (Mt 9:6; 28:18). Portanto, nenhum homem é digno e tem o direito de reclamar qualquer nível de poder ou autoridade sobre qualquer coisa, ou pessoa. Ninguém pode ser proclamado, ou auto proclamar, autoridade em nome de Deus e, ainda, conferir autoridade a outros (Lc 14:11). Ninguém pode ser o porta voz da Palavra de Deus, pois ela não é de posse humana. Ela não sai do meio de nós, mas vem para nós, por meio do Espírito de Deus (1Co 14:36).
A Palavra de Deus pertence a Deus e não ao homem (Jo 2:30; At 10:37).
Aqueles que buscam qualquer tipo de autoridade estão exercitando o poder que o maligno detém na terra e que, um dia, ofereceu ao Filho de Deus (Mt 4:8-9).
Este tipo de poder foi rejeitado pelo Messias Jesus, nosso Salvador, porque nada representa frente à glória do mundo celestial e é abominável perante o Pai, a quem tudo pertence.
Quem valoriza, busca por, e exercita este poder terreno está sendo um instrumento nas mãos do maligno, realizando a obra do maligno, sendo seu porta voz.
A obra do maligno tem tudo a ver com o uso de coisas terrenas, substitutas e aparentes, atrativas ao homem e realizáveis pela capacidade do homem.
Assim, podemos entender que a hierarquia eclesiástica tem apenas um objetivo e este não é organizacional. Seu objetivo é a institucionalização da autoridade, ou seja, a diferenciação e separação do maior e do menor, do que é considerado ter poder de influência, ou decisão, daquele que é considerado não o ter.
A autoridade eclesiástica é o efeito da acepção de pessoas, de segregação dos humildes e daqueles que são considerados pelo juízo humano, incapacitados, despreparados ou inaptos para liderar.
Liderança é um conceito puramente humano e, portanto, maligno.
Nós temos de entender que o caminho da nossa salvação é trilhado pelo servir e não por aquele que senta à cabeceira da mesa (Lc 22:25-27).
A direção pertence àquele que nos guia, o Espírito. Os homens são todos iguais, perante uns aos outros e perante o Senhor. Neste mundo de desigualdades, de injustiça, o julgamento será feito pela qualidade do servir, do ser usado pelo Espírito, em vez do ser servido, ou fazer pedidos ao Espírito.
Aqui e agora é o momento de servir; depois virá o momento de ser servido. Aquele que quiser ser servido agora, com certeza não terá lugar à mesa, na eternidade, ao lado do Senhor (Lc 12:27; 22:29-30).
O crente no Senhor Jesus, o Salvador, só vê autoridade, dignidade, honra e glória no Senhor e tem-no como Mestre e Pastor, unicamente. Ele sabe que nenhum homem pode ocupar esta posição. Este trono pertence somente ao Senhor Jesus.
O leitor pode questionar: mas Paulo ensinou sobre a vinda de apóstolos, profetas, doutores, milagres, dons de curar, socorros, governos, línguas, etc, na igreja (1Co 12: 27).
Concordo. Temos então que fazer algumas considerações sobre o que Paulo disse e o que ele quis dizer.
Quero começar com a pergunta: o que é ser apóstolo?
O que vou expor aqui, serve e é totalmente aplicável aos títulos de pastor, evangelista, doutor, mestre, e assim por diante.
Apóstolo significa embaixador, alguém que fala, que se apresenta com a autoridade daquele que o envia, como um representante legal, como uma testemunha dos fatos, porque esteve presente aos fatos.
Sendo assim, vamos verificar porque os discípulos foram chamados de apóstolos.
Primeira condição – porque eles foram escolhidos, um a um, pelo Senhor (Jo 6:70).
Segunda condição – porque eles conviveram com o Senhor até o momento da sua ressurreição, participando continuamente dos seus ensinamentos, dos milagres, dos sinais e maravilhas que o Senhor e eles próprios realizaram (At 1:21-22).
Terceira condição – porque foram comissionados diretamente pelo Senhor (Mt 28:19-20).
Quarta condição – eles foram cheios do Espírito Santo, revestidos de poder do alto, quando este veio no Pentecoste (At 1:8).
Derradeira condição – porque em todo o seu caminhar, o poder de Deus em sinais, prodígios e maravilhas, em revelação dos pensamentos e propósitos dos corações eram manifestados. O que nenhum homem era capaz de produzir era presenciado por todos, confirmando o testemunho do Senhor por eles anunciado. Esta é derradeira porque não existe uma outra condição.
Pedro declarou de forma mais resumida. Para que uma pessoa pudesse ser considerada um apóstolo, ela tinha de ter sido um discípulo escolhido pelo Senhor Jesus e ter sido uma testemunha ocular de seu ministério terreno, desde o princípio, participando dos ensinamentos, dos sinais e maravilhas que o Senhor fez, enquanto entre nós (At 1:28). E o Senhor complementa dizendo que deveriam receber o poder do Espírito Santo para que pudessem ser testemunhas do Senhor (At 1:8).
Quero apenas destacar que todas as condições devem ser cumpridas. Não é estar atendendo a uma ou outra condição, mas, sim, a todas. Considere o fato de que quase cento e vinte pessoas estavam no cenáculo no momento em que o Espírito veio sobre eles, porém, não foram todas consideradas apóstolos, apenas onze deles, os escolhidos pelo Senhor.
O chamado de Saulo seguiu o mesmo padrão, pois foi escolhido pelo Senhor, recebeu do Senhor o evangelho, foi comissionado a pregar aos gentios e foi cheio do Espírito, tudo diretamente pelo Senhor. O seu caminhar, a sua chamada foi repleta da manifestação de poder do Espírito (At 9:3-6, 15-16; 22:14-15, 21).
Considerando o exposto, a forma como Matias foi constituído um entre os apóstolos, ou seja, ocupando o lugar de Judas Iscariotes, não é conforme ao procedimento do Senhor. Pedro procedeu conforme uma vida vivida sob a Lei, não demonstrando a iluminação que o Espírito daria, pois ainda não o havia recebido.
Os dois artifícios que Pedro usou não são conclusivos e representativos da vontade de Deus. Ele se utilizou de um jogo de sorte e da opinião, por voto, de homens.
O jogo de sorte é um artifício para quem quer uma resposta imediata. Não pode ser considerada segura na indicação de uma ou de outra parte, principalmente em se tratando da parte de Deus. Então, tem-se que pesar a incerteza, quanto à origem da resposta, sem ter-se em mente uma origem determinada. É um procedimento cujo resultado não pode ser colocado à prova por uma referência fidedigna, pois não se sabe qual das partes, ou lados, é fiel. É um procedimento totalmente incerto, impossível de ser determinístico.
Um jogo de sorte nunca poderá ser considerado um meio para se obter a resposta de Deus, não somente porque seja um processo aleatório, mas porque Deus somente se pronuncia através de seus profetas.
Gesto semelhante entre os crentes nominais é o abrir da bíblia, de forma aleatória, em busca de uma passagem que representa a resposta de Deus para um impasse, uma dúvida ou problema.
A opinião com voto dos demais, mesmo sendo unânime, mostra confiança no parecer de homens. Todos sabemos que o coração do homem é enganoso e, até então, eles eram homens ainda levianos, falto de entendimento e de pequena fé (Jr 17:9-10; Mt 6:30; 8:26; 16:8; Rm 3:4).
Cabe dizer aqui que Pedro foi precipitado ao proceder aquela escolha. Não era aquele o momento para tal, a pessoa para realiza-la e a maneira de fazê-la. O momento certo, a pessoa certa e a maneira certa, ocorreu quando o Senhor escolheu a Saulo (At 9:3-17).
Quanto a questão do ser apóstolo, a primeira pergunta a se fazer é: qual é o fundamento dos apóstolos (Ef 2:20)?
Sim, porque é comum encontrar por aí, respostas com foco na posição, na função, ou status do ser apóstolo, em vez do real fundamento deste.
A segunda pergunta, semelhante à primeira é: qual é o fundamento dos profetas?
Para ambas as perguntas, a resposta é bem simples: o Messias, o Enviado, o Salvador Jesus.
Não é a chamada para apóstolo e profeta, ou a sua mensagem. É quem os chamou para apóstolos e profetas, e enviou, por meio deles, a sua mensagem.
Segundo as Escrituras, a Lei e os profetas apontaram para o grande rei, o escolhido, o ungido, o enviado, o Messias que viria para libertar Israel de toda opressão humana, para um reinado eterno. Os profetas viveram e anunciaram sobre aquele que haveria de vir. Logo, o fundamento dos profetas, a razão deles existirem, o propósito da sua missão, a origem e o centro da sua mensagem, foi o Messias, Emanuel, o redentor Jesus (Am 3:7; Is 7:14; Lc 1:33).
O fundamento dos apóstolos foi aquele que veio e manifestou-se como o Filho de Deus, nos deu o Evangelho de Deus e pela sua ressurreição, a vida eterna. Assim como para os profetas, os apóstolos viveram para a causa do Senhor e morreram por aquele que veio e voltou ao Pai, e que continuava vivo entre eles. O Messias Jesus era a razão deles existirem, o propósito da sua missão, a fonte e o centro da sua mensagem, a principal pedra da esquina, o Redentor e Salvador. Sem este fundamento não existiriam os apóstolos, ou os profetas.
Jesus, o Cristo, o Salvador, é o verdadeiro fundamento, pois nele se estabelece o templo santo do Senhor. É nele que somos edificados morada de Deus, em Espírito (Ef 2:21-22). Ele é a pedra de esquina e o santuário do templo divino.
Portanto, a razão de ser dos apóstolos, profetas, doutores, evangelistas e dos diversos dons, desde que escolhidos, chamados e dados pelo Senhor, para a obra do Espírito Santo, é somente a edificação do corpo do Senhor Jesus, o Salvador, ou seja, a igreja (1Co 12:12-31).
Quanto a obra do ministério, é conveniente confundir este termo com a direção, a administração das demandas de um grupo de crentes, para justificar a liderança espiritual.
Obra do ministério é a edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12). Nada tem a ver com liderança, a não ser a direção do Espírito que é quem edifica o corpo do Senhor.
O ministério de todos os crentes é evangelizar e não, liderar (2Tm 4:5).
O homem não é apto para edificar, sequer a sua própria vida, quanto mais a igreja, o corpo do Senhor.
Temos que ter muito cuidado nesta questão, pois querem nos fazer crer que o fundamento da igreja são os apóstolos e profetas, focando nas suas funções, e, aí, incluem também os pastores, bispos, padres e papas, cujas funções sugerem apenas mandar, dar ordens e verificar se estão sendo cumpridas. Deixaram de fora os diáconos, evangelistas e missionários, aqueles cujas funções sugerem execução do serviço.
O corpo do Senhor Jesus, a sua igreja, não é uma construção de alvenaria, um prédio, ou uma instituição organizada segundo moldes seculares, com elementos hierárquicos, dirigindo, organizando, planejando, controlando e executando, mesmo com o pensamento, doutrina e objetivo de engrandecer o nome de Deus.
O corpo do Senhor, a sua igreja, é de natureza espiritual e não precisa, ou faz uso, de nada que tem a ver com o material deste mundo.
Assim, se podemos descartar o prédio, também podemos descartar toda a estrutura organizacional, hierárquica e eclesiástica, que pretende se legalizar, com base nas declarações de Paulo. Podemos, também, descartar seminários, faculdades, centros e escolas de treinamento teológico, santuários, conventos, mosteiros e ordens religiosas, bem como seus ordenamentos, pois não há sequer fundamento no evangelho para justificar as suas existências.
O Senhor tem de ser senhor em tudo e o homem tem de ser nada.
O Espírito do Senhor é a Palavra, a ação, e é Deus.
A igreja do Senhor Jesus é a morada de Deus em Espírito, o santuário eterno de Deus, e nós, para sermos seus, temos de ser aceitos e recebidos pela cabeça do corpo, para estar, habitar e viver nesta morada, neste corpo, para que possamos ser santos e salvos, condições que o Senhor, a cabeça, concede a cada membro do corpo e os credencia para trabalhar na edificação deste (2Co 6:16).
Temos de estar disponíveis e dispostos voluntariamente a sermos seus instrumentos, para que possamos ser vasos de seu dom (Ef 4:8). Temos de ser espirituais para habitarmos templos espirituais (Hb 8:2).
A edificação deste templo, desta morada, somente se dá pela ação do Espírito Santo, em dons do alto. Nada tem a ver com construções de prédios e estruturas administrativas ou de liderança espiritual.
Portanto, buscar por dons espirituais para atender posições e funções hierárquicas humanas é estar buscando a virtude contrária da que vem de Deus, pois a virtude de Deus vem por seu Espírito que vive e só se manifesta no corpo do Senhor.
Viver sob estes auspícios humanos é viver para o propósito terreno, é distanciar-se de Deus. E se não vivermos para Deus, para o reino de céus, com toda certeza estamos vivendo para o reino terreno, cujo senhor é o adversário de Deus.
Então, o que temos visto o cristianismo ensinar não confere com o que Paulo realmente disse. É preciso muito exercício mental, muito engano, para conceber das palavras de Paulo, que o homem pode estabelecer a sua vontade, agindo de acordo com o que pensa ser melhor para Deus.
Existe uma pedra sobre a qual o Senhor edifica a sua igreja e que, erroneamente, tem sido interpretada como sendo a iniciativa humana (Mt 16:18).
Eu pergunto: sobre qual pedra está o Senhor se referindo?
Sobre o ser humano, discípulo Pedro, homem pecador, de pouca fé, falto de entendimento que logo a seguir veio a ser usado por satanás e ainda negou ao Senhor (Mt 16:23; 26:75)?
O Senhor conhece muito bem quem é o homem e a sua natureza errante, má, desobediente, rebelde, transgressora (Mt 7:11; 12:34; Jo 2:24-25). Mesmo Pedro e Paulo, escolhidos e separados para o apostolado, revestidos e cheios do Espírito do Senhor, cometeram deslizes devido à pressão dos interesses humanos (Gl 2:11-14; At 23:26).
Com certeza o Senhor não estava falando de Pedro. Pedro não é, e nunca poderia ser, o ministro do santuário, do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou e muito menos ser capaz de prevalecer sobre as portas do inferno (Hb 8:2).
Qual, então, é a pedra, a pedra de equina que fundamenta e edifica a igreja do Senhor?
Se a igreja é o corpo do Senhor Jesus, se a cabeça do corpo é o Senhor Jesus, e se o corpo do Senhor é espiritual, pois não foi fundado por mãos de homens, então esta pedra só pode ser o Espírito do Senhor que habita no seu corpo espiritual. E tudo o que o Espírito fala é para edificação do corpo de Cristo e vem a nós por meio de revelação, como a que Pedro recebeu, pois o Espírito não tem boca humana (Mt 16:17).
Sabemos que o Espírito fala à igreja por meio de profecia, para edificação, exortação e consolação da igreja (1Co 14:3). Portanto, a revelação que vem pelo Espírito é a ação do Senhor que prevalece contra as portas do inferno, pois Ele foi o único que prevaleceu sobre a morte (Rm 6:9).
Sob o mesmo princípio, o Senhor é quem detém as chaves do reino dos céus, pois ele é o reino dos céus (Mt 4:17; Ap 1:18). Tudo o que ele ligar na terra será ligado nos céus, e tudo o que ele desligar na terra será desligado nos céus, pois somente o seu Espírito é capaz e tem esta autoridade. E o Espírito sempre age segundo o propósito e a vontade do Pai (Mt 7:21; Jo 5:30; 6:39).
Qualquer intenção humana, por melhor e mais nobre que seja, será suspeita de leviandade e, a terra e os céus nunca poderão estar sujeitos a algo ou alguém que seja suspeito.
Do exposto acima, podemos concluir que o que temos nesta afirmação, só pode ter sido acrescentado, ou o texto original foi totalmente distorcido propositalmente, para incitar a crença de que o homem natural pode receber tamanha autoridade na igreja corporal do Senhor.
Lembremos que não são os indivíduos que compõe a igreja do Senhor, mas almas convertidas que são aceitas por ele e recebidas para estar no seu corpo, ou seja, no reino dos céus. Na Sua igreja não tem corpos humanos, mas sim, almas espirituais. E no reino dos céus somente entram aqueles que, como o Senhor, fazem a vontade do Pai (Mt 7:21).
Quanto aos dons do Espírito, tem sido um argumento usado para justificar a existência e a prática de posições e funções hierárquicas, ou de liderança espiritual. Lembremos que os dons do espírito vêm e vão, e são concedidos para o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do corpo, quando o corpo se encontra contaminado. Não são mecanismos funcionais de direção, gerência ou administração, como um cargo numa empresa secular, ou um agente de liderança.
O serviço a Deus é uma vocação divina e não, uma função superior muito bem remunerada.
O chamado e a unção vêm da parte do Espírito e nunca foi uma função delegada por autoridade eclesiástica humana. A missão de resgatar almas nunca foi substituída pelo esforço em arrebanhar almas. O ministério nunca foi direção eclesiástica, mas o resgate das almas.
A hierarquia e a liderança são conceitos humanos, e como tais, estão longe de representar a vocação divina.
São muito valorizados pelo mundo, pois são chaves para o domínio e controle da intenção do homem natural. Sem dúvida, conferem importância, prestígio e poder ao homem, para serem usados sobre o homem. Por isso o mundo as estima.
A estratégia que o Senhor empregava para atrair o povo não era a aparência de sua pessoa, tão pouco a sua função sacerdotal, mas a autoridade de sua mensagem de salvação e a manifestação do reino dos céus, pelo poder do Deus Pai. As pessoas criam no Senhor porque não estavam vendo um homem, mas Deus.
Lembremos que a base para a escolha dos discípulos não foi o grau de instrução ou a capacidade de persuasão e domínio. Eram iletrados, alguns, pescadores que apenas estavam dispostos e disponíveis para deixar tudo para trás e atender ao chamado do Senhor (Mt 19:27-29): “Segue-me”.
Quando dois discípulos do Senhor quiseram ter privilégios e importância, foram severamente repreendidos pelo Senhor, pois todos deveriam considerar um ao outro com igualdade. Não deveria haver um maior do que o outro (Mt 20:25-27). Disse, claramente, que as autoridades somente servem para oprimir. Condenou a acepção de pessoas, a concessão de honra e mérito, principalmente quando resulta em exaltação ou reconhecimento ao homem.
Todos os homens são inúteis, maus, injustos, mentirosos (Rm 3:10-12). Todos estão debaixo do pecado e foram expulsos, destituídos da glória de Deus (Rm 3:23).
Não é o título obtido em uma faculdade, ou seminário, que vai reverter esta condição, para qualificar, habilitar, credenciar ou autorizar a nomeação no corpo do Senhor. Tão pouco é por ordenação ou por “imposição de mãos” humanas.
Púlpitos e cadeiras reservadas em plataformas não tem o poder de conferir autoridade espiritual. Apenas importância, honra e superioridade humanos. (Mt 23:8,10-12; Mc 9:34-35; Lc 22:25-27).
A técnica nas igrejas é impressionar as pessoas para obter sua aprovação passiva. Utiliza-se da eloquência no discurso, da profundidade de conteúdo, da postura de voz, geralmente acompanhada de frases de efeito, ou gritos e murros nos púlpitos, ou narração melodramática de estórias.
Jesus, nosso Salvador, tem de ser o único Senhor, a cabeça, o guia, o mestre, o único Pastor. Ele é o grande autor e consumador da fé nele. Somente ele tem esta autoridade de guiar, de instruir, de ensinar e realizar. É o seu nome e a unção que o acompanha, que realiza. Devemos aprender com ele, pois há nele mansidão e humildade de coração (Mt 11:29). Davi estava consciente disso e tinha o Senhor como seu Pastor (Sl 23).
A verdadeira missão, o trabalho que todos nós temos de executar, é ir a todos os cantos da terra, aonde o nome de Jesus ainda não foi levado, para que ele possa anunciar a sua oferta de resgate e salvação da alma. Este é o propósito maior, a premissa, a razão única da existência da igreja do Senhor Jesus na terra. E a determinação deste momento de ir, de quem deve ir, para onde ir e como ir, não é de nossa competência, ou avaliação. É o Senhor quem tudo decide e encaminha pelo seu Espírito.
Jesus ensinou que o envolvimento com a sua missão exigiria apenas fé, ou seja, que não era preciso contar com recursos materiais e tão pouco com uma estrutura organizacional humana. Este modelo incomoda a fé de muitos, pois cumprir esta missão sem apoio institucional, sem dinheiro e sem recurso material, é considerado loucura, ou impossível de se fazer.
Porém, o impossível não toma corpo quando há fé no Senhor, aquele que está à frente deste serviço. Para ele tudo é possível e para quem crê nele, nada é impossível (Mt 17:20; 19:26; Mc 9:23; 10:27; Lc 1:37).
Também, recomendou que a divulgação do seu evangelho devia ser realizada por todos, indistintamente, e não somente por um grupo seleto, dito separado e preparado para, e chamado de missionário.
O que mais vemos hoje em dia é a defesa de bandeiras, o partidarismo “cristão” e o proselitismo, isto é, a tentativa de fazer um adepto de uma religião, deixa-la e passar a ser um adepto de outra.
Enquanto o cristianismo avança com a fragmentação, a proliferação de entidades religiosas encobre a ação dos poucos imbuídos da missão do Senhor de promover a coesão do seu corpo.
É evidente que caiu no esquecimento, ou deixou de ser a prioridade, que o fim da missão do Senhor é resgatar as almas. E a conversão destas não é um feito da persuasão humana, mas da ação do Espírito Deus, pois ele é o único que pode converter e regenerar o ser.
Se você diz que foi convertido em uma religião, então você, inconscientemente, foi vítima de uma lavagem cerebral, ou uma hipnose coletiva, porque a conversão pelo Espírito de Deus não está vinculada a qualquer organização humana, ou a qualquer profundidade de doutrina ou discurso persuasivo.
Portanto, das considerações acima, só podemos concluir que a hierarquia eclesiástica serve para fazer com que a organização religiosa humana se estabeleça como entidade de Deus e cresça, usando do proselitismo, do ganho numérico de membros e adeptos, a qualquer custo e por qualquer meio possível ao homem, camuflando, com uma cobertura religiosa, a verdadeira mensagem do Senhor Jesus.
O proselitismo não foi o objetivo do Senhor quando atraiu a multidão que o seguia, como também Paulo não quiz colher num campo que outro plantou, para não tirar de outro, seus seguidores, e foi em direção oposta à dos outros apóstolos (2Co 10:16). Da mesma forma, João, o Batista, buscou se diminuir para que seus seguidores passassem a seguir a Jesus (Jo 3:30).
Um deve plantar, outro regar, mas é o Espírito quem dá o crescimento. Portanto ninguém é alguma coisa, a não ser aquele que faz crescer. Os demais terão sua recompensa, segundo a disposição e disponibilidade para o trabalho do Senhor (1Co 3:6-8).
Outro aspecto importante a considerar é que a hierarquia confere ao indivíduo autoridade funcional e um nível superior, em relação aos demais. Quem está acima passa a ser o foco das atenções e elemento de referência.
No cristianismo, passa a ser elemento de exemplo que deve ser copiado, ou seguido. Invariavelmente, este elemento passa a ser admirado, enaltecido e, por último, exaltado. Casos há, e não são poucos, que chega a ser amado e até adorado, carnalmente.
Em assim sendo, se manifesta a idolatria, ou seja, a substituição de Deus, ou a elevação ao status de Deus. Apesar de ser abominável perante Ele, ela está muito presente no cristianismo e é motivo suficiente para que Deus se afaste daqueles que a praticam.
Porém, a idolatria não se refere apenas à adoração a imagens de escultura, como citado na bíblia. Tudo que venha a substituir a Deus, ou considera-se possuir atributos sagrados que recebam atenção, adoração, ou devoção, como representante de Deus, é um ídolo.
Um ídolo é um mecanismo de alienação usado para prender, misticamente, o indivíduo ao ritual sagrado. É a associação psicológica entre o objeto e o ser sagrado que a adoração religiosa cria na mente do indivíduo.
O principal ídolo, isto é, objeto de adoração no cristianismo é a bíblia. Ela é considerada sagrada, infalível, inerrante, santa, a própria voz ou Palavra de Deus. Esquece-se que é apenas um objeto, um livro formado de folhas escritas por homens, nas quais é impossível que contenha toda a infinita Palavra de Deus. Ignora-se, voluntariamente, sua origem e formação histórica. Estimula-se, sob alegação de condenação divina, a não questionar sua condição sagrada ou colocar em dúvida sua autenticidade. Não se pode iniciar um encontro sem ela. Leva-se em carros, bolsas ou deixa-se exposta em ambientes, como amuleto, para garantir a proteção divina.
Ídolos, também, são as autoridades e líderes religiosos, sejam pastores, bispos, papas ou sacerdotes. São considerados homens de Deus e, portanto, santos e infalíveis. Tamanha é a importância e confiabilidade conferida a eles que suas decisões são consideradas a perfeita vontade de Deus e tem levado muitos à morte física e espiritual.
Outro ídolo é a igreja, o prédio considerado a casa de Deus que tem recebido a reverência como lugar sagrado, santo, de adoração, onde se pode encontrar com Deus. Implicitamente, rejeita-se a possibilidade de encontrá-Lo fora daquele lugar. Ao adentrar, ou lá permanecer, é preciso fazê-lo com reverência, pois é onde Deus se encontra.
Temos, ainda, cadeiras, altares, púlpitos, oratórios, vestimentas, águas e unguentos considerados santos e sagrados que, pelo seu uso e posse, supõe-se realizar curas, ou garantir a proteção divina. São procedimentos da Lei, incorporados os do paganismo, e praticados pelo cristianismo.
Muitos e diversos são os desvios promovidos pela apostasia que levam os indivíduos a serem aprisionados nos sistemas religiosos e a se distanciarem da face do Senhor (Gl 5:1). O Senhor tem voltado sua face, dado suas costas, se afastado e largado as religiões cristianizadas, isto é, as pessoas que a elas pertencem, à sua própria sorte. Por isso o maligno lá impera com todos os seus movimentos irreverentes e isentos de espiritualidade. Por isso aquele ambiente é um local de incredulidade, de desobediência, de idolatria e exaltação ao ego, de engano e morte.
Amar a Deus sobre todas as coisas significa que nada, pessoa ou coisa, deve estar no Seu lugar ou ser desejado, buscado, considerado de igual importância, ou mais importante que ele.
Quando uma pessoa acaba, involuntariamente, à frente de um grupo, devido a um serviço voluntário em prol do grupo, ele é chamado de dispenseiro, de ministro, ou presbítero. Não se trata de um dom, mas de um serviço resultante da ação do dom de apascentar.
Ao ministro cabe ser fiel dispenseiro dos mistérios de Deus (1Co 4:1). Logo o ministério está relacionado com o espiritual, com o aperfeiçoamento dos santos, em vez de afazeres e responsabilidades humanas.
Se servimos aos outros por amor a Deus, voluntariamente, não temos do que nos gloriar, pois o fazemos de boa mente, como que estivéssemos fazendo para o Senhor. Se fazemos esperando um prêmio, uma recompensa, uma promoção, ou um salário, não o fazemos de boa mente, pois estamos negociando o nosso serviço.
Deus nos deu, gratuitamente, a vida eterna, por meio do seu Filho, e não está negociando conosco, esperando que façamos algo em troca. O que foi nos dado gratuitamente, foi cobrado do Filho, pois foi o único que tinha competência para pagar, em nosso lugar.
Considere se você, ou eu, temos competência para fazer algo para Deus, na tentativa de pagá-lo ou retribui-lo. É obvio que não, assim como a ovelha não tem como pagar ao pastor, pela proteção de sua vida (Mt 5:36; 6:27).
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