Rituais e Celebrações

Criamos um deus, formamos a classe sacerdotal, construímos o templo para acomodar o nosso deus e ser o local de encontro dos crentes para adorá-lo, além de garantir a nossa continuidade.

Agora, temos de desenvolver e aperfeiçoar o conjunto de normas, regras, ordenanças, doutrinas, rituais, cerimônias, celebrações, simbologias e representações para a adoração, bem como os mecanismos de punição para os desobedientes e de promessas do deus, para quem obedecer. Mas apenas promessas que o deus deve cumprir, para que eles se sintam livres da obrigação de cumpri-las.

É o momento de consolidar o estabelecimento de uma religião.

As coisas do homem continuam a acontecer e o processo é o mesmo, ainda hoje.

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Todos os tipos de coisas, como rituais, cerimônias, discursos, oração pública, música, dança e celebrações do cristianismo, são ocupações religiosas. Essas liturgias, ou formalidades de valor aparente encobrem e mascaram o que está em oculto. São expressões da hipocrisia.

O poder do ritual está na intenção e motivação para fazê-lo e não, no ato de o fazer.

A lembrança, a atitude e o prazer interior são observados pelo Senhor e, se forem genuínos, desinteressados, lhe agradam. Porém, a realização, isto é, a ocupação com o fazer e com a busca por artifícios tais como, objetos, vestimentas, ambiente, cenário e formas de procedimentos a serem executados, não têm valor para Deus, porque está relacionada com a apresentação exterior, com a aparência.

Como sabemos, o Senhor não leva em conta a aparência (Mt 22:16).

O Senhor olha o que você faz exteriormente e compara com a intenção que Ele vê em seu coração. Se forem diferentes, Ele vira o rosto e te ignora. Com esta atitude Ele diz que você está por tua conta.

Assim, rituais, cerimoniais, formalidades, sermões, orações, execuções musicais, cantos, danças de qualquer tipo, e, ainda, o batismo, a santa ceia (eucaristia), a celebração de casamentos (matrimônio), considerados sacramentos do ato religioso “cristão”, a celebração fúnebre, a apresentação de crianças, e qualquer outra forma de expressão exterior que o cristianismo tem inventado, não são prova do sentimento interior daquele quem realiza, ou daquele a quem é destinado.

Já a adoração verdadeira, a que ocorre no coração, a adoração espiritual, não se manifesta em atos pontuais, mas sim, em ato contínuo, no ato de ser, em vez do fazer. Ninguém a pode avaliar pela expressão exterior.

A expressão exterior é um artifício para exercitar a hipocrisia, pois a performance exterior encoberta, mascara, camufla a verdadeira intenção ou sentimento. Ninguém que observa é capaz de discernir o interior de quem o realiza, a não ser o Espírito Santo.

O rito conta com o efeito da aparência, do que é para ser visto e apreciado por quem vê ou assiste, independente do sentimento no ato de realiza-lo, pois o sentimento está oculto aos olhos de quem vê.

A aparência é o palco da vaidade e, portanto, rejeitada por Deus. Logo, a apreciação desta pelo mundo é rejeitada por Deus. Jesus disse que o mundo descansa (jaz) no maligno. Portanto, se o mundo a estima, fica configurada a sua procedência maligna.

O ditado “as aparências enganam” existe porque a aparência tem todo o potencial para enganar.

Deus não tinha prazer nos holocaustos e sacrifícios que lhe eram oferecidos pelo povo de Israel, embora fosse mandamento da Lei de Moisés. Antes, ele observava a vontade, o prazer e o zelo em obedecer a Sua palavra, em dar ouvidos ao Seu querer. Sacrifícios de animais eram oferecidos a Ele, sobre o altar, mas não era o que Ele valorizava (1Sm 15:22).

Com o mesmo sentido, Ele via a prática do jejum. O sacrifício da carne, o proceder do corpo, a atitude de humildade, a aflição da alma, de nada valiam se continuavam na prática da injustiça, o proceder da iniquidade (Is 58:5-7).

Deus que conhece os corações, não se deixa levar por nossos atos exteriores. Porém está atento, e nada passa despercebido em nossas intenções, pensamentos e propósitos.

O Senhor Jesus, como não poderia deixar de ser, condenou a hipocrisia, a disposição para agir em desacordo com o que sente ou pensa, pois ela carrega em si o engano, a mentira. Este proceder é evidente em quem procura tirar proveito de outras pessoas ou situações, pois necessita de uma estratégia de engano.

Ele repreendeu os fariseus, os escribas e os doutores da Lei, por causa da ênfase no fazer e no aparecer (Mt 23:26-28; Lc 11:43-46; 12:1). Eles faziam parte de uma classe particular de pessoas, os sacerdotes e levitas, que podemos também chamar de autoridades religiosas.

Nos seus ensinos, o Senhor Jesus nos mostra que você não tem de fazer coisas para mostrar a tua fé, ou adoração, porque é a tua fé que vai mostrar a todos o que está no teu coração, por meio de ações que o Espírito manifesta em você em concordância com a fé que ele lhe dá.

Obras de fé não tem nada a ver com liturgia, ritual ou formalidade religiosa. Obra de fé é o testemunho dado pelo Espírito por meio de você, ao te ungir e te mover para a realização do sobrenatural vontade de Deus.

Obras de fé nada tem a ver com realizações de capacidade, ou habilidade humana. Onde há fé, haverá obras sobrenaturais, maravilhas que transcendem a compreensão humana, manifestações que estão muito além da capacidade humana, na esfera do impossível ao homem.

Como o próprio termo diz, são de fé. São manifestações sobrenaturais canalizadas em você por tua fé no Senhor. Não tem nada a ver com procedimentos simbólicos, preestabelecidos, programados, automatizados e destituídos da aprovação e isentos da unção do Espírito.

Dizer que tem fé, mas não tem a comprovação, por meio do testemunho do Espírito, da manifestação do sobrenatural, não passa de uma falácia, de uma narrativa, de uma mentira. É o mesmo que confessar que tua fé é morta (Tg 2:18,20,22,26).

É a fé que produz as obras e estas dão o testemunho da fé.

Quando o homem faz o que lhe é possível fazer, ele não faz por fé, mas sim, por sua capacidade. Quando houver a necessidade de uma ação sobrenatural, por meio de um dom, e o homem nada faz, fica evidenciado a sua incapacidade espiritual de viver a fé em Deus e ser habitação do Espírito. É o mesmo que dizer que o espírito de Deus não tem parte no que ele faz, porque ele não buscou, ou permitiu, ou agiu por meio da ação do Espírito.

Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6).

Jesus ensinou que a verdadeira adoração provém do espírito, quando buscamos a Verdade. Ele quis dizer que a adoração é uma disposição da alma que move o ser espiritual, para glorificar o nome de Deus. Esta é a adoração que não utiliza e não necessita de qualquer elemento exterior, deste mundo, para que possa ser expressa. Tudo o que precisa é a fé em Deus e o dom do Espírito.

A fé no Senhor e a busca pela Verdade são atos de adoração. A disposição e o prazer na santidade também o são. A vocação para a renúncia de si mesmo e ao mundo. A humildade, a simplicidade, o desapego material, a pobreza espiritual, a paciência, a esperança no Senhor, a longanimidade, a perseverança, o ânimo e disposição para o serviço, para a paz e para o amor, quando espontâneos, voluntários, são expressões da verdadeira adoração. Elas provêm do interior do ser, na saciedade do espírito humano, sendo alimentado pela presença do Espírito Santo. A esta expressão do ser, Deus vê e busca (Jo 4:23).

Não é o teu querer fazer alguma coisa que vai dizer a Ele, o quanto você o adora, o quanto você o ama, ou crê nele.

Para ficar mais claro, ainda, observemos o enfoque que o Senhor dá à discrição, ao sigilo, ao segredo, quando trata da adoração a Deus.

As suas recomendações foram para manter o segredo de comportamentos ou atitudes nobres, com o fim de evitar que fossem vistas.

O objetivo era que o ato não incitasse as pessoas a elogiar, a homenagear, a prestar honra, conceder mérito ou reconhecimento a quem o realizou. Era Deus quem tinha de receber todo mérito e toda glória. Foi assim que Jesus agiu entre nós (Mt 6:2,5-6, 16-18).

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