A Oração

Um ritual judaico que foi introduzido no cristianismo e que nada tem a ver com a verdadeira oração, aquela que o Senhor Jesus realizava.

É urgente falar sobre a confusão que há a este respeito e, principalmente, o por quê dela não estar surtindo efeito neste universo religioso de bilhões de orações diárias. Precisamos considerar que, ou a oração como tem sido entendida e empregada é um equívoco e enganosa, portanto, sem qualquer efeito, ou que não deve haver cristãos e pessoas justas, orando a Deus (Tg 5:16).

Existe uma ênfase religiosa tão exacerbada na doutrina da oração, ou da reza, que a tem elevado a um grau de importância tal que, se não igual, superior ao poder do sangue do Senhor que nos redime do pecado. E assim o é, porque acredita-se no que tem sido ensinado, isto é, que ela tem o poder de providenciar ou conceder tudo que se deseja ou necessita, no que concerne às petições humanas, tal como acontecia e acontece no judaísmo.

É uma doutrina baseada no relato do amigo inoportuno e na parábola da viúva injustiçada (Lc 11:5-8; 18:1-8). Em ambas as citações vemos a insistência por parte de quem pede, devido à indisposição para atender por parte de quem resolve. Por que? Porque não era uma questão do interesse de quem tinha condições de resolver. Porém, para livrar-se da insistência, para o bem ou para o mal, atendeu (Lc 18:5).

 Será este o caso de Deus, nosso Senhor? Será que ele estará indisposto a atender à uma demanda que não diz respeito a seu interesse, à sua justiça?

Sim! Se a demanda é concernente ao amor à sua justiça, ele se agrada e atende (Lc 18:8). Veja bem, a Sua justiça não é a justiça deste mudo, pois esta é injustiça perante Ele (Jo 16:8; 2Ts 2:7). Já a Sua justiça é descoberta no Senhor, por meio da fé (Rm 1:17). Esta é a justiça que é do seu interesse; a que provém da fé, a fé no seu enviado, no seu Filho.

Agora, para atender a interesses humanos, com certeza Deus Pai não atenderia. Porque seu Filho Jesus não veio ao mundo para atender às aspirações humanas, mas, unicamente à Sua vontade. Ele não veio a este mundo para estar ocupado com as infinitas demandas particulares do homem, pois a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui, ou seja, na satisfação de necessidades terrenas (Mt 6:33; 12:18-21; 13:7,22; Lc 12:13-15).

Contrariamente ao o que o cristianismo tem apregoado, a parábola da viúva que insistia no seu pedido de justiça, a um juiz injusto, não nos ensina a importunar a Deus pelo favor de nossa causa (Lc 18:1-8). Deus não vai nos atender para se livrar de nossa insistência. Ele nos atenderá se o nosso pedido satisfaz a Sua justiça, razão bem diferente daquela do juiz que não estava preocupado com a possibilidade de sua reputação ser manchada pela mulher, por não a atender, segundo a justiça da lei (Dt 24:17). Aquele juiz estava preocupado apenas consigo mesmo, com o seu bem estar, e convinha ao seu bem estar, livrar-se dela. Da mesma forma é o argumento do amigo inoportuno (Lc 11:5-8).

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Mas, antes de prosseguirmos, quero perguntar: o que é a oração?

A primeira resposta, que está na ponta da língua dos religiosos, é “conversar com Deus”.

Me parece ser uma resposta simplista, como se estivéssemos tratando de um momento com um amigo, ou parceiro. Uma conversa despretensiosa, sem reverência, informal, até íntima.

Aqui está o primeiro aspecto que quero tratar sobre a oração religiosa; a reverência.

Quando tratamos sobre estar na presença de Deus, o Senhor, é preciso lembrar que não é uma questão de abrir a boca e balbuciar palavras, bater um papo com Deus, mas de dirigir-se e estar perante nosso Salvador, aquele que criou os céus e a terra, o Altíssimo, o Todo Poderoso, Deus, aquele que pode suscitar filhos, das pedras (Mt 3:9), aquele que faz descer fogo do céu e consome o leviano, aquele perante quem os céus e a terra tremem e toda a natureza se curva (2Sm 22:8; Ez 38:20; Jl 2:10).

Considere como procederíamos se tivéssemos que nos apresentar perante um rei, um juiz, perante o presidente de um país. Será que seria informal? Compare os encontros de presidentes e os discursos que são preparados com antecedência e com muito cuidado para evitar gafes, mal entendidos, palavras inadequadas, ou, serem prolixos, principalmente no tocante a solicitações e acordos entre nações.

E no que diz respeito à pessoa de Deus. Será que sabemos realmente com quem estamos tratando? Será que não o estamos confundindo com um de nós, com aquele amiguinho do peito? Será que estamos nos considerando tão santos ou desconsiderando a sua santidade e poder?

Outra questão é o aspecto impositivo de tal oração, pois tem a conotação de O estarmos obrigando a nos ouvir, quando, onde e quantas vezes quisermos. É certo que ele não dorme, mas ele trabalha, e muito (Jo 5:17)! Parece que nós é que estamos ociosos, desocupados e achamos que podemos interrompe-lo ou importuna-lo, ao nosso bel prazer, por causa de nossas demandas, ou porque somos preguiçosos e preferimos que outro faça em nosso lugar.

É claro que se Ele ainda não tivesse enviado seu filho e nos dado o seu evangelho, situação anterior a da vinda do Messias, poderia até haver a possibilidade de sua intervenção, quando fosse buscado para situações que estivessem dentro do escopo da Lei. Mas não estamos debaixo da Lei.

Agora que temos seu evangelho e o seu Espírito atuante em nós, para as questões que dizem respeito a seu propósito, é uma grande insensatez ou desvario religioso acreditar que ele está de braços cruzados, esperando ouvir todas as petições e atender a nossos delírios egoístas.

 Ainda, o que é que Deus teria de falar, de relevante, conosco que ele já não tenha dito (Hb 1:1)?

Ou, o que teríamos de falar para ele em vez de ouvirmos o que ele já disse (Lc 16:29)?

O que mais queremos saber sobre ele, ou sobre o que não nos convém saber, já que mistérios pertencem ao seu desígnio e ele somente os revela por meio do seu Espírito, quando é em favor do seu propósito?

Prezado leitor, precisamos de um banho de realidade espiritual, de consciência espiritual, para enxergarmos a nossa pequenez espiritual, a nossa insignificância espiritual e, pior ainda, que somos aqueles que foram expulsos da Sua presença, fizemo-nos inúteis (Rm 3:10-12,23). Uma vez participamos da Sua glória, mas consideramos pouca a nossa medida e quisemos glória semelhante à dele e por isso, caímos.

A oração, como tem sido tratada pelas religiões do cristianismo, e até de outras religiões não cristãs, é considerada um gesto de altíssima relevância que todos, indistintamente, devem nutrir no seu viver diário. É um ato sagrado que representa a comunhão com o Supremo, com o Eterno. Tem recebido o status de igualdade ao sangue de Cristo, com poder para perdoar pecados e resolver todas as dúvidas e problemas do dia-a-dia e das aspirações humanas.

Muitos acreditam que a oração é um momento de agradecimento, de petição, de interseção e de louvor.

Com este pensamento em mente, devemos considerar que, como em tudo devemos agradecer a Deus, então devemos estar constantemente orando ao Senhor. Como estamos sempre precisando de alguma coisa, então devemos estar constantemente orando. Como devemos lembrar um dos outros em suas necessidades, então devemos estar constantemente orando. Como devemos reconhecer a grandeza, a majestade, o poder e a glória de nosso Deus, então devemos estar constantemente orando. Então não se trata de um momento específico, de uma situação específica, por um tempo específico, ou por uma necessidade específica, ou de uma postura e preparação específicos. Devemos estar em constante e contínua oração, para que possamos, sempre, ouvir e receber do Espírito (At 12:5; Ef 6:18).

Àqueles que acreditam que devemos estar e viver em espírito de oração eu quero deixar claro que esta condição não existe e não é bíblica.

É notório que existe o espírito de sabedoria (Ex 28:3), que é da virtude do Espírito Santo, o espírito de adivinhação, de engano que são malignos, porém espírito de oração não é possível existir, pois oração é um ato humano e não do Espírito. O Espírito não ora; ele socorre, intercede pelos santos e pode tocar no nosso coração, para que façamos a invocação intercessora (Rm 8:26-27; Fp 1:19; 1Tm 2:1).

Se considerarmos que é o nosso espírito que está em oração, então não estamos conscientes sobre o que ele está orando, pois, a nossa consciência, a nossa alma, está focada na realidade e nos afazeres do dia a dia.

Ainda, se a oração é conectar-se ao Espírito do Senhor, não faz sentido dizer que se está em espírito do Espírito. Ou estamos no Espírito, ou não.

Voltando ao que foi exposto até aqui, podemos dizer que, se a oração for realizada da forma como se acredita ser, isto é, um momento de separação, isolamento e ritual, então devemos parar o que estamos fazendo e estar apenas orando, pois temos muito por que orar. Porém, como temos as nossas vidas para viver, estamos defronte de um dilema e tudo indica que estaremos sempre em falta de oração.

Portanto, este conceito de um momento de separação, de isolamento e ritual da oração, que estamos inclinados a aceitar como correto, com certeza está errado e o cenário de bilhões de orações, mundo afora, está provando isto, em seus efeitos, ou melhor, sem nenhum efeito (Tg 5:16).

A verdadeira oração, sim, pode muito em seus efeitos.

Além disso, os indivíduos que se apegam a esta prática de oração acabam sendo ludibriados pelos estados alterados de consciência, quando atingem o nível de êxtase emocional. Haja vista as manifestações “espirituais” incoerentes, sem propósito, chegando ao nível do absurdo, desprovidas de edificação que não resultam em qualquer benefício, pessoal ou coletivo, carnal ou espiritual, nos encontros religiosos, principalmente nos encontros de evangélicos pentecostais.

A história registrou, no passado, casos de levitação, tal a capacidade de concentração e interiorização de quem a realiza a oração, porém, promovendo sentimento de frustração daqueles que se sentiam impotentes, ou desprivilegiados, por não poder fazer, ou sentir o mesmo.

Quero questionar: levitar traz alguma edificação para quem executa, ou para quem observa?

Para quem observa, talvez o assombro, e este, não é edificante.

Ainda, diga-me: por qual força ou influência algumas religiões africanas e orientais executam o mesmo feito?

Ao que tudo indica, estamos perante um caso, para dizer o mínimo, de profundo controle mental, tal como o transe em filosofias orientais, esotéricas e espirituais. Níveis profundos de auto hipnose também podem reproduzir efeito igual, o que não passa de um estado de intensa possessão maligna.

Portanto, a oração de que o mundo religioso trata, não é um diálogo informal e direto com o soberano dos céus e da terra, como querem acreditar. Pode ser que não se trate de um diálogo, porque para haver um diálogo é preciso que duas pessoas falem, o que não é o caso de tal oração, pois temos apenas uma pessoa falando, e a outra sem espaço para falar, se é que ela está ouvindo.

Pode ser até um estado de possessão maligna. Se não é verdadeiro, então, é falso.

Nos casos mais comedidos podemos considera-la uma invocação, já que se faz uso de palavras que são expressas oralmente ou mentalmente, partindo de uma parte, somente.

E quanto àquela voz que acreditamos ouvir? Será que é Deus realmente que está falando?

Como podemos ter certeza de que é realmente da parte de Deus?

Há tantas vozes no mundo e em nossa mente que, praticamente, é impossível nos livrar delas e manter a mente vazia (1Co 14:10). Experimente não pensar em nada.

Uma prova inequívoca, da inoperância deste momento religioso de oração é que mil pensamentos vêm e vão, tanto aqueles que se quer falar, quanto aqueles que não se quer falar.

Já imaginou como é a reação da parte de Deus quando ele ouve o que você não quer falar?

Ainda, qual é forma de resposta que você espera, ou quer ouvir da parte de Deus?

Você espera ouvir uma voz?

E se não for por meio de uma voz? Você está preparado para não ouvir uma voz?

E se você não ouvir uma voz, como saberá que houve uma resposta?

Você pode dizer que a resposta pode vir na forma de um pensamento, uma ideia, uma imagem, uma passagem bíblica que surge na tua mente, um evento do qual você se lembra de repente, um rosto desconhecido, etc.

Bom, ao meu ver, fica difícil um diálogo quando não se convenciona, de antemão, a forma como ele vai se dar. Em toda comunicação é preciso, antes, estabelecer o código que vai ser usado. É um diálogo, ou, não é? Vamos falar nossas palavras e ouvir as suas? Quem decide estas coisas? Há algum padrão preestabelecido?

Caro leitor, não sei se você percebeu, mas acho que estamos nos deparando com uma confusão. Com algo que não se sabe como se faz, ou como se dá, mas que todo mundo está fazendo, acreditando que está acontecendo e aceitando como verdadeiro.

Desculpe-me, mas é mais que confusão. É insensatez!

Em tudo vejo apenas pessoas buscando soluções para seus problemas, através de um estado de interiorização, que acontece em um momento específico e reservado, tal como um ritual ou procedimento litúrgico.

No fim das contas, acaba sendo, apenas, um discurso individual, às vezes coletivo, um ato exterior a ser realizado, em que se acredita que aquele a quem nos dirigimos está nos ouvindo e concede mais atenção do que em outros momentos ou situações do dia a dia.

É mais provável que seja apenas um discurso feito ao vento, sem que haja qualquer pessoa para ouvir, a não ser o ego.

Sem dúvida é um grande engano incutido na mente carnal e ignorante das pessoas que as leva para muito longe da compreensão da verdadeira relação e intimidade com Deus.

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E por falar em relação e intimidade com Deus, estamos falando de comunhão.

Comunhão significa “como um”. Interessante este significado, pois não retrata um relacionamento, mas uma união. Dois se tornam um, tamanho é o grau de afinidade, de cumplicidade, de comprometimento, de um paralelismo semelhante a uma cadeia de DNA.

Diferente de um relacionamento, onde busca-se a adequação, a conformidade, o consenso, em um grau mais elevado do que na individualidade.

A comunhão não é um relacionamento e, tão pouco, fraternidade.

Fraternidade significa irmandade, a manutenção de laços de proximidade por haver algo em comum, mas, não necessariamente que se busque a adequação ou conformidade. Apenas o gosto, o prazer, ou o conforto por uma situação que é boa para as partes, desobrigando outras situações que podem até serem conflitantes.

Nas nossas relações com as pessoas no mundo temos muitas situações de fraternidade, tais como com as pessoas do trabalho, da escola, da academia, do lazer, etc. Não significa que haja comunhão, que todos se colocam no lugar do outro e sentem como o outro, em todas as situações.

Diferentemente da concepção dos religiosos cristãos nominais, a verdadeira oração, repito, a verdadeira oração, é o ato de comunhão, onde nós e Deus, o Senhor Jesus, nos sentimos um só ser, plenamente entregues e participantes um ao outro, exatamente como ele nos ensinou no partir do pão e do vinho (Jo 6:47-58).

Não se trata de um tempo específico, ou um ato repetitivo, mas de um ato contínuo de vivência, de interação. Não se trata de pronunciar dez ou mil palavras, pois Ele conhece nosso coração, as nossas necessidades, e o que é melhor para nós (Mt 6:7). Não se trata de um momento de ter sensações, sentimentos, pensamentos, visualizar imagens, eventos, ou qualquer outra manifestação emocional.

Ao elevar nossos pensamentos a Deus precisamos nos conscientizar de quem realmente somos, de confessarmos a verdade do que encontramos em nós, do que carregamos em nós, de reconhecermos a nossa pequenez, a nossa incompetência espiritual, a nossa contaminação pelo pecado, o nosso arrependimento e a necessidade do Seu perdão.

Precisa ser um ato contínuo, um estado de ser e viver onde a presença e a unção do Espírito são sentidas a cada segundo de vida, como acontece com cada respiração, cada batida do coração, continuamente e constantemente. Trata-se de uma conexão, um canal aberto com a virtude, o poder do Senhor, tal como ocorreu com a mulher com fluxo de sangue (Lc 8:46).

A verdadeira oração é a conexão com a fonte da virtude em Deus. Como um cabo que liga um gerador de eletricidade à bateria. O Altíssimo sendo o gerador e nós a bateria. Era esta a razão da bateria Jesus buscar um momento para ser recarregada com a virtude do Pai, pois, a cada milagre, a cada cura, a cada sinal e maravilha que realizava, dele saia a virtude do Pai que estava nele.

O Senhor Jesus e o Pai eram um continuamente e o Pai lhe falava tudo o que ele queria que o seu tabernáculo humano dissesse e fizesse aos homens. No dia a dia do seu ministério entre os homens, ele realizava a obra do Pai, por meio da virtude nele revestida. No entanto, o tabernáculo carnal era fraco, como qualquer outro, e precisava ser reabastecido com a unção do Pai. O Pai é quem realizava as obras, mas o Filho, o corpo material, sofria a perda de vigor do corpo. O tabernáculo sofria a deterioração por força do uso.

A oração de Jesus não era balbuciar dez palavras, ou mil palavras, com voz de lamento e choro, por dez minutos ou três horas. O tempo que ele ficava conectado com o Pai, em isolamento, dependia exclusivamente do quanto o Pai o usaria naquele dia.

Jesus não precisava sequer pedir, pois o Pai sabia de todas as coisas que ele necessitava e lhe concedia, pois sabia que era para a realização de Sua obra. Quando Jesus pediu ao Pai para si, em benefício da sua natureza humana, o Pai ficou em silêncio, até que o Senhor voltou atrás e pediu que se fizesse a Sua vontade (Mt 26:42; Lc 22:42).

Antes de pedirmos para o nosso proveito, reflitamos no que o Senhor fez, e façamos o mesmo. Todavia, melhor será deixar que o Senhor faça do seu jeito, sempre, sem ter de pedir, porque ele sabe o que nós necessitamos e o que melhor para nós, mesmo antes de querermos pedir.

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Você ainda pode questionar o porquê de Jesus ter ensinado aos discípulos a orar usando palavras, então (Mt 6:9-14).

Vamos analisar o que realmente se passava com eles.

Jesus era judeu, nascido na Judeia, assim como os seus discípulos. Eles eram conhecedores e praticantes da Lei. Eles executavam as ordenanças e obedeciam aos preceitos e mandamentos da Lei. Jesus, antes de iniciar seu ministério de salvação, embora diferenciado dos demais, agia como qualquer outro judeu.

Originalmente, as orações eram feitas de forma natural e espontânea, sem um texto padronizado ou um tempo e hora específicos. Porém, com o advento da Lei, o sacerdócio instituiu um formato a ser executado, iniciando pelo louvor a Deus, seguido das petições de necessidades de cada um e finalizando com o agradecimento.

O sacerdócio era o meio pelo qual o Senhor falava com o povo e era quem apresentava as petições e o agradecimento do povo ao Senhor. As causas eram levadas ao sacerdócio e estes as apresentavam ao Senhor no Santo dos Santos.

O povo executava os rituais e cerimônias da Lei, demonstrando arrependimento e gratidão a Deus. Havia o costume de praticar o jejum juntamente com as orações, em ação de graça ao Senhor, pelas bênçãos concedidas ao povo. Estes procederes já existiam antes da Lei e qualquer pessoa poderia pratica-los. Porém, com a instituição do sacerdócio, coube-lhe esta atribuição e o apelo ao povo para que, juntamente, os executasse. Quando o povo e o sacerdócio desviavam dos caminhos do Senhor, este lhe enviava os profetas com o objetivo de resgatar a obediência à Lei. Ao profeta, então cabia a invocação, o jejum e a ação de graças.

O jejum era uma forma de afligir a alma pelo sacrifício da carne, de inclinar a cabeça como junco e estender debaixo de si saco e cinza. Não é preciso falar que era um procedimento ineficaz, pois o verdadeiro jejum e dia aceitável ao Senhor era pelo Senhor observado, não em procedimentos, mas na prática, no exercício, dia a dia, do que realmente mostrava uma atitude de obediência ao Senhor (Is 58:5-6,8).

Quando o povo não procedia como o Senhor havia mandado, de nada adiantava os jejuns e orações, pois eram apenas procedimentos a que foram instruídos pelos sacerdotes, já que seus corações estavam afastados, longe do Senhor (Is 1:15-17,19; 29:13; 66:2).

Temos de considerar também que a oração judaica era mais uma forma de louvor do que uma petição. Os salmos, ou cantos de Davi exemplificam este louvor. Não era como uma conversa com Deus, pois os judeus sabiam e sabem que ninguém é digno de se dirigir a Deus, o Altíssimo e Todo Poderoso. Eles tinham os sacerdotes como mediadores e os profetas como porta vozes de Deus. Portanto, não passava pela mente dos judeus dirigirem-se diretamente a Deus, como numa conversa. Porém, ousavam dirigir-se a Ele em atitude de gratidão e verdadeiro arrependimento, honrando e louvando à magnificência de Deus por meio da obediência. Davi, sendo um verdadeiro adorador, sabia como fazê-lo e podemos aprender com ele, por meio dos seus salmos, ou cantos, que deixou escritos.

Após o retorno de Babilônia, um grupo de sacerdotes e escribas estabeleceram um texto padrão e a frequência de três vezes diárias que deveriam falar o texto: manhã, tarde e noite. O conteúdo devia compreender uma série de dezenove bênçãos, salmos selecionados e petições particulares.

Hoje, e desde o segundo século, a oração judaica é praticada com o uso do Sidur que é o livro de orações do judaísmo, preferencialmente de forma comunitária, em um local designado, como o Templo ou a sinagoga, considerados locais apropriados, onde acredita-se que Deus está acessível.

Como em nenhum momento vemos uma explicação sobre o que é a oração, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. A instrução que conheciam, ensinada pelos sacerdotes, não era eficaz. Pela mesma razão João, também, ensinou a seus discípulos.

E qual foi o foco da oração que o Senhor ensinou (Mt 6:9-13)? O mesmo que ele já havia falado à Israel por meio do profeta Ezequiel (Ez 28:25-26; 36:23-31).

O Pai, cujo nome deve ser santificado em nossa vida e por meio dela (Ez 36:23).

O reino do Pai que veio nele para estar entre nós (Ez 36:24).

A vontade soberana do Pai que ele veio cumprir, a qual nós, também, devemos cumprir (Ez 36:27).

O Pão que vem do céu, a Palavra incorporada nele que ele nos trouxe para alimentar a nossa alma a cada dia (Ez 36:29-30).

A justiça, no ato do perdão das nossas ofensas, desde que assim também procedamos para com os outros (Ez 36:25-26).

A liberdade da escravidão do pecado e da morte, ao livrar-nos da tentação e do mal (Ez 36:26-28;31).

Porque dele é o reino, ele é quem detém todo o poder, e é o único digno de toda honra, louvor e glória, e estava entre nós.

Tudo o mais seria acrescentado como consequência na vida de quem assim vivesse para o seu reino (Mt 6:33).

As palavras do Senhor nesta oração apenas nos indicam que eles não estavam sabendo e fazendo da forma correta e, ainda, que o que estavam fazendo era nulo perante Deus. Por isso, ele explicou como eles deviam e como não deviam se aproximar do Pai. Se o Filho assim lhes falou para fazerem, eles entenderam que assim poderiam fazer.

Quem assim elevasse seus pensamentos ao Pai, não estaria fazendo petições humanas, para a satisfação da carne, pois sabia que todas as suas necessidades eram conhecidas e que não havia a necessidade de pedir alguma coisa. Também, não esperavam uma resposta do Pai, pois não havia uma pergunta, apenas o reconhecimento da santidade do nome do Pai, o reconhecimento da vinda do seu reino, manifestado entre eles, o reconhecimento da vontade do Pai, o reconhecimento da Palavra que lhes alimentava e dava vida, e o reconhecimento da Justiça do Pai, pela necessidade de perdoar aos que lhes ofendessem, porque o Pai lhes havia perdoado.

Qual foi o pedido de caráter pessoal, humano?

Que não caíssem em tentação e que o Pai lhes livrasse do mal.

Para que fim? Para o proveito da carne ou para o crescimento espiritual?

Façamos o mesmo, quando elevarmos nossos pensamentos ao Senhor, não no formato cristianizado da oração, mas num ato contínuo de gratidão, em reconhecimento de que Ele é Deus e de que a Ele pertence o reino, o poder, a honra, o louvor e a glória.

Ele foi o Messias de Israel e ensinava o evangelho do seu reino, o evangelho da salvação, não somente para os seus discípulos, mas também para seu povo, Israel, porque ele era o Messias que eles esperavam.

Nos ensinamentos do monte, Jesus estava corrigindo a forma errada como o povo tinha sido ensinado pelos sacerdotes e doutores da lei. Vemos, lá, vários aspectos de atitude e comportamento reprováveis perante Deus que o povo praticava. Um deles era sobre a oração.

Devemos observar que não somente o ato comum de oração foi reprovado, mas, também, aqueles quem a ensinaram.

Era o que os discípulos precisavam ouvir, saber e agir, naquele momento. O tempo viria quando eles precisariam de toda a virtude do alto, para cumprir a missão do Senhor. E quando chegasse este momento, o teor e a razão de suas orações seria bem diferente.

Faça uma pesquisa sobre o conteúdo das invocações dos apóstolos e constatará que suas petições e súplicas eram de ordem espiritual, sempre relacionadas à missão de resgate das almas e do crescimento espiritual dos crentes (2Cr 1:11). Em nenhum momento pediram por coisas materiais, ou de ordem particular, e sempre em atitude de gratidão pela ação do Espírito prosperando na missão do Senhor.

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Até aqui, tratamos da oração cristianizada, equivocadamente chamada de oração. Na verdade, ela se configura mais com uma invocação.

Tratamos da oração judaica que se configurava como um ritual ou cerimonial, padronizado pelo sacerdócio e formatado no Sidur.

Tratamos, também, da verdadeira oração, aquela que o Senhor praticava isoladamente.

Tratamos, ainda, da oração que o Senhor Jesus ensinou aos discípulos, restaurando a forma, a atitude e o caráter espiritual, em vez daquela que os sacerdotes lhes tinham ensinado.

Agora, vamos tratar da invocação, que é equivocadamente chamada de oração pelas religiões do cristianismo.

O aspecto mais importante da invocação que deve anteceder e ser sempre presente, é a autenticidade daquele que a profere. Você tem de ser você mesmo, reconhecer quem você é e se apresentar com humildade e em verdadeiro arrependimento, considerando-se indigno de se dirigir ao Senhor. Deve ser livre de hipocrisia, sem querer mostrar para Deus, ou para qualquer outra pessoa que esteja lhe ouvindo, o que você não é. Você tem de estar nu perante Deus, desprovido de qualquer sentimento de dignidade, porque não há dignidade em quem é traidor. Devemos ter a mesma atitude de coração como Davi a tinha, ao se dirigir a Deus (Mt 6:5; Sl 139).

Um segundo aspecto que podemos ver, ainda, é que na invocação, isto é, enquanto estamos com o pensamento voltado a Ele, o nosso comportamento exterior não deve denunciar a nossa conexão com Ele. O teu comportamento, a tua posição, os movimentos e gestos que você realiza têm de ser discretos para não chamar a atenção de outras pessoas (Mt 6:6). Ninguém precisa saber que você está buscando uma conexão com Deus e o ideal é que ninguém suspeite. Afinal, este é um momento de aproximação com o Senhor, onde o teu coração se quebranta, o teu espírito se constrange, você se derrama e deixa de existir como ser importante e relevante. Você deve expor ao Senhor que você está consciente do teu eu, de quem você verdadeiramente é.

Sem dúvida ele já te conhece, mas ele quer que você mostre que se conhece, que você sabe quem você é, de fato. Ele apenas irá conferir se o que você está revelando de si condiz com o que você realmente é. Se não conferir, você estará sendo hipócrita. É neste momento que tua autocomiseração, a tua autopromoção ou autoestima está sendo observada. Se você for hipócrita, será reprovado e ele virará sua face e se retirará de você. Infelizmente, você nem sequer sentirá quando a tua reprovação acontecer, por estar cheio de si.

Agora, qual deve ser o conteúdo na invocação? O que falar e porquê falar?

 A princípio, nada! Você acha que nossas palavras ou pensamentos valem alguma coisa perante aquele que conhece as intenções de nossos corações e nossos pensamentos, antes mesmo de virem à nossa mente?

Voltemos à realidade, para enxergarmos a quem estamos nos dirigindo. É com o Senhor todo poderoso. Não existe nada sobre nós que ele não saiba. Vigie os teus sentimentos, pois eles terão que ser verdadeiros. São eles que estarão falando a todo volume. Se você for verdadeiro, autentico, você conseguirá chamar a sua atenção e ele voltará a sua face para você, te perdoará, seja qual for teu erro, tua falha ou fraqueza, te envolverá com seus braços e te levará para dentro dele.

Você está disposto, animado, encorajado para esta atitude?

Ou está com medo, por causa de teus erros. Você deve temer ao Senhor por sua grandeza, mas não por teus erros. Teus erros, se confessados a ele com verdadeiro arrependimento, de forma a nunca mais comete-los, serão perdoados (Jo 5:14; 8:11). Se não for assim, você está perdendo teu tempo.

Você se coloca totalmente disponível para o que possa acontecer durante e após esta atitude?

Lembre-se que, se você estiver se aproximando Dele, da forma correta, nada será como antes de você busca-lo. Ele vai mudar o rumo e a perspectiva dos acontecimentos para o inesperado, para algo que é inimaginável por você e será em favor do Seu propósito. Nada será por você, pois a Sua graça te basta (2Co 12:8-9).

Você exala o sentimento de profunda gratidão que é o gatilho da conexão com o Senhor?

Um coração grato é um coração que reconhece a soberania dos desígnios de Deus, em todos os instantes e eventos da vida. Este sentimento de gratidão tem de ser puro e verdadeiro, realmente do coração. Não pode ser fruto de um estado mental, construído pelo conhecimento aprendido.

A gratidão chama a atenção do Senhor que volta o seu rosto para nós. E quando isto acontece, nós realmente estamos na sua presença. Os efeitos em nós são sublimes, extasiantes, de regozijo e de profunda paz celestial. Nenhuma palavra precisa ser dita. Nenhum pensamento precisa ser elaborado. Só sentimento de graça, de amor, de ânimo e euforia para a realização da sua missão. A sua virtude nos enche e nos recarrega para o que ele quer fazer por meio de nós.

Sabemos que Deus é espírito e que a nossa aproximação e comunhão com ele tem de ser espiritual. Portanto, se tivermos petições e súplicas ao Senhor, que sejam para sermos cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual (Cl 1:9). Que nossas petições concordem com à prosperidade de sua missão aqui na Terra, em vez da nossa prosperidade material (1Jo 5:14).

Que suas bênçãos sejam reconhecidas em nós quando nos cura e fortalece em espírito, nos recarrega de ousadia, ânimo, coragem, sabedoria, saúde física e mental, força de vontade, resiliência, alegria, despertamento, em vez da aquisição de coisas materiais, ou de alcance de aspirações humanas, ou de decisões acertadas em dúvidas ou conflitos terrenos.

A bênção é de natureza espiritual e provém do Espírito santo, o qual só se move e atua em prol do resgate da alma humana, visando o cumprimento da vontade de Deus. O Espírito não está focado na necessidade do homem, ou na satisfação de suas aspirações. O seu comprometimento é com as coisas que são de cima e não com as que são da terra, assim como o nosso também deve ser (Cl 3:1-4).

Derrame teu coração ao Senhor e peça-lhe para te ensinar a verdadeira oração, a oração que ele praticava.

A doutrina cristianizada da bênção de Deus tem levado o crente a encarar uma benção como sendo o alcance de um prazer terreno, de um deleite e necessidades naturais (At 7:56). Os seus olhos estão cegos, engodados com a possibilidade do possuir aqui, em vez do participar das celestiais (Mt 6:19-20). A implicação desta doutrina tem cunho materialista e simplista, pois estimula o homem fraco de conhecimento e de espírito a usá-la pela facilidade de execução, ou seja, apenas pedir em uma oração. Este tipo de oração é desprovido da essência e relevância espirituais, pois ao ser usado desta forma, ela busca destituir a soberania de Deus, a devida reverência à sua majestade, o temor na aproximação ao Senhor, e foca apenas no receber, na benção.

Neste cenário de total falta de comprometimento com os sentimentos puros e verdadeiros, sem a verdadeira fé e motivações comprometidas com a vontade do Senhor, e total leviandade à majestade do Deus altíssimo, tudo o que podemos esperar é o império da fraqueza, da doença e da morte, física e espiritual (1Co 11:30).

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