O Batismo

O assunto sobre o batismo, o das águas, nunca foi tão questionado como tem sido hoje em dia. Os argumentos doutrinários estão assentados sobre bases instáveis que, por pressão doutrinária das religiões cristianizadas, não se foi permitido contra argumentar.

É um elemento do conjunto de doutrinas elaboradas no cristianismo e está vinculado diretamente à adoração religiosa, pois se baseia na execução e observação de atos exteriores. Passou a ser considerado de importância sacramental, isto é, de obrigatoriedade de execução.

O batismo era um ritual e costume judaico de purificação, realizado na forma de lavagem com, ou aspersão de, água, e executado publicamente, segundo a Lei de Moisés. Seu valor no cristianismo consistia em tornar pública, em prestar um testemunho de aceitação do novo Caminho de resgate, da salvação por meio daquele que haveria de vir, Jesus, o Messias.

Antes do surgimento do cristianismo, ainda nos primórdios da igreja cristã em Roma e após a morte dos apóstolos de Jesus, devido à apostasia que se fazia marcante, pelo distanciamento das doutrinas originais do Senhor, certos costumes e tradições judaicas foram inseridas nas doutrinas da igreja, para substituir o batismo de João, o batista, que era praticado pelos primeiros crentes judeus. Uma delas é a modificação do procedimento de batismo, ou imersão em águas, pelo procedimento de aspersão de água, em semelhança ao que os sacerdotes judaicos faziam na libação.

O que podemos entender do evangelho do Senhor é que Jesus não batizava (Jo 4:2. Nada consta que tenha batizado seus discípulos e estes reproduziam o ato de João, o batista, ao fazer discípulos, quando então exortava para que cressem naquele que viria após ele. Ainda, João destacou uma diferença entre o batismo que praticava e o batismo do Messias. No entanto, tanto os que batizavam como os que foram batizados fugiram do Senhor quando de sua prisão e morte. O ato exterior não teve nenhum valor já que o interior, o de fé, não provinha de uma verdadeira consciência para com Deus.

Certamente, o batismo de João era um ato exterior, dependente exclusivamente da vontade e da decisão daquele que se submetia ao batismo. Já o batismo de Jesus, segundo o próprio João, não era um ato exterior e não dependia de uma decisão daquele que se aproximava e cria em Jesus. Era um ato do Espírito, cuja decisão de batizar com o Espírito, só a ele pertencia e, ainda, sob seu escrutínio. João deixou claro que o seu batismo era de arrependimento, para a remissão dos pecados, crendo naquele que viria após ele. Era a forma visual, exterior, como ele devia manifestar o Messias a Israel (Jo 1:31).

A análise dos eventos onde ocorreram o batismo nos leva a considerar duas fases inerentes à conversão do crente (At 8:12-23). Esta divisão é puramente didática e visa apenas a conduzir o raciocínio, para alcançar o entendimento verdadeiro. Não significa que o Espírito age em fases, ou que só atua numa fase depois que conclui a outra. É insensatez considerar que o Espírito esteja condicionado à sequência de eventos, ou a reações humanas.

A primeira fase, digamos, da conversão da alma é quando, pela operação do Espírito de Deus, o indivíduo vem a crer em Jesus Cristo como sendo Deus, Senhor, e o busca para ser seu Salvador. Neste momento, o Espírito conduz a alma que é impelida a crer, para reconhecer a Verdade no evangelho do Senhor, confrontando o seu universo de verdades com a Verdade, Deus. A partir desse momento, o evangelho passa a ser o referencial, o guia que sustentará, ou não, todas as outras verdades relativas. É o momento do reconhecimento de quem se é e da necessidade de ser regenerado para o serviço de Deus. É o momento em que se conscientiza da sua fraqueza, da sua impotência e, principalmente, do porquê da sua vinda a este mundo e da sua dependência de salvação, para poder sair deste mundo e voltar ao mundo celestial. É o momento do arrependimento.

É comum muitos associarem este momento a um momento de êxtase, de euforia emocional, de paz e alegria, quando o contrário é que deve acontecer no profundo da alma do convertido. A inspiração para a reflexão profunda do que tem sido a sua existência, a sua vida, imersa nas aspirações e encantos de um mundo de engano, de erro e transgressão toma lugar e o vislumbre do estado de perdição em que se encontra, desperta nele a premente e desesperada necessidade de mudança, de transformação, de regeneração, por motivos e razões muito mais sublimes e elevadas que lhe mostrarão o real valor de sua alma e sua existência nos caminhos do Senhor, ainda aqui no mundo, bem como no reino vindouro.

É o momento de regeneração da mente carnal para uma mente espiritual. É neste momento que, pela operação do Espírito de Deus, a alma vem a reconhecer sua condição miserável de pecadora sob condenação, produzindo um novo estado de consciência que a leva ao arrependimento. No arrependimento ela confessa, para si mesma, que não deseja mais ser pecadora, brotando um profundo desejo de viver uma nova e diferente vida, repugnante para o pecado.

Neste momento ela vislumbra a promessa de uma nova esperança de vida, com uma nova e excelente expectativa, cheia de graça, santa e eterna, dada pelo seu Senhor, mais excelente do que qualquer prazer ou satisfação que este mundo ou condição humana possa oferecer.

Esta alma que agora crê e está arrependida é vista pelo Senhor como uma criança que precisa nascer de novo, para o reino espiritual. É o momento da segunda fase. O batismo com o Espírito, ou seja, o novo nascimento.

O nascer de novo é uma operação do Espírito que pode ser lenta e gradativa ou pode ser imediata e urgente. Quem decide a forma e o momento desta operação é o Senhor, pois só ele conhece o propósito para aquela alma.

Tudo, até aqui, aconteceu no interior do ser, no seu ser espiritual e não precisou de qualquer artifício material, externo, para que viesse acontecer, a não ser ter ouvido a mensagem do evangelho. É neste ponto que a religiosidade exacerbada se infiltra e quer mudar o rumo do evento sobrenatural. É neste ponto que o homem intervém e quer fazer segundo a sua vontade. É neste ponto que a doutrina do batismo é infringida sobre a pessoa recém convertida, por força da instituição humana. E quando ela alcança seu objetivo, faz o crente ter a sensação de ter cumprido todo o caminho e o estagna no crescimento espiritual.

Do exposto acima, eu pergunto: qual é o foco do evangelho em respeito ao alcance das ovelhas que pertencem ao Senhor?

Em outras palavras, o que é mais importante na realização da missão de resgate das ovelhas que pertencem ao Senhor? O batismo ou a evangelização?

Observe que antes de haver o batismo e necessário o evangelismo. Se o evangelismo não for efetivo, isto é, não alcançar as ovelhas, não levar à conversão da alma, como poderá haver o batismo?

É no evangelismo, no anunciar da mensagem de salvação em Jesus que o indivíduo, pela ação do Espírito, vem a crer. O crer no Senhor já é suficiente para a salvação, pois é a partir do crer que a alma anseia e busca pela vida santa e eterna que o Senhor lhe oferece.

Temos aqui uma questão de focar no que é realmente a prioridade, isto é, no que realmente faz sentido na missão do Senhor que é trazer as ovelhas para o aprisco. Porque, sem ovelhas não haverá o cumprimento da missão e mais nada pode ser feito. Por isso, o Senhor não batizava, mas sim evangelizava, resgatava as almas, não para imergi-las em água, mas para que o Espírito atuasse na salvação delas, imergindo na vida delas (1Co 1:17).

Por isso, pregar ou anunciar o Evangelho é o alicerce, o ponto de partida da missão, o que dá sentido para, e é capaz de alcançar o objetivo, a salvação da alma.

O Espírito é o penhor da nossa herança para a redenção daqueles que são do Senhor (Ef 1:14). Não é o batismo. Este é um ato meramente exterior, de confissão pública que somente pode vir depois do crer, desde que o seu fim seja a glorificação do nome do Senhor, em vez de satisfação pessoal, ou requisito doutrinário.

Percebe que o sistema religioso estabelece uma doutrina limitadora da ação do Espírito?

Ele define o limite de crescimento espiritual do convertido com base na máxima, “se crer e batizar será salvo” (Mc 16:16). Com esta diretriz ele despreza o valor do evangelismo que leva ao “crer”, e foca no evento secundário, o batismo que nunca acontecerá se o evangelismo não for efetivo, ou seja, se não houver aquele que creu.

É como valorizar a carroça e esquecer que sem os bois ela não serve para nada.

Ao apregoar que chegar ao batismo é tudo de que se precisa para ser aceito e salvo por Jesus, o convertido se entrega ao caminho fácil, aquele que depende apenas dele, e prossegue em frente achando que tem cumprido as exigências do evangelho para ser salvo.

Por isso muitos crentes acreditam que já estão salvos, por terem sido batizados. Faça lhes esta pergunta e terá esta resposta.

Não é o batismo que sela para a salvação, mas o revestir do Espírito, habitando no crente e fazendo dele uma testemunha do Senhor.

O batismo, isto é a imersão em águas, é doutrina de João, o batista. O batismo do Espírito, isto é, revestimento de fogo, é doutrina do Senhor.

Quem pratica ou se submete ao ato de imersão em águas, está obedecendo a João, o batista. É um discípulo de João. Quem busca e é revestido com o Espírito Santo está obedecendo a Jesus. É um discípulo do Senhor Jesus.

Portanto, podemos escolher se queremos ser discípulos de João ou de Jesus.

Precisamos ter cuidado quanto ao uso do termo “fogo”. Este é associado ao lago de fogo, geralmente. Todavia, ele pode representar o fogo do Espírito, em alusão direta à sua descida na festa de Pentecostes, revestindo os crentes. Lembre-se de que foram vistas línguas, como de fogo sobre eles. Ou, ainda, à coluna de fogo que ia adiante de Israel, enquanto no deserto.

Ao dar ouvidos à religiosidade humana e se sentir atraído pela facilidade do caminho, o crente descarta o segundo momento do seu encontro com o Senhor. Chegar a este momento não depende do que ele possa fazer, a não ser demonstrar, aos olhos do Senhor, uma profunda paixão pela Verdade. Portanto, o caminho será apertado, e a porta, estreita (Mt 7:14).

É muito fácil um crente ser aceito numa comunidade após ser submetido ao batismo, ou ato de imersão na água, porque geralmente ele desconhece a mecânica dos procedimentos religiosos e não está desperto para a simplicidade da manifestação do Espírito.

O alarido religioso se manifesta em alta voz, enquanto o Espírito sussurra no silêncio da alma. Assim, o laço da armadilha do inimigo captura a alma inexperiente no conhecimento de Deus e, uma vez enlaçada, acaba sendo aprisionada ao sistema maligno da religião humana.

Os argumentos são muitos, porém a vindicação da veracidade deles é nula. E tudo acaba no diz que me diz, em palavras, discursos, procederes e serviços ao homem. Tudo o que é fácil e possível ao homem fazer, com pouco custo.

Este assunto é, literalmente, complexo, porém, espiritualmente, simples. É de extrema relevância para todo o cristão, pois está relacionado com a falsa adoração e afeta a salvação da alma.

O batismo foi um ato bíblico e é considerado uma doutrina fundamental e obrigatória no cristianismo. Este tema será aprofundado numa próxima publicação, onde o evangelho será o foco, se assim for a vontade do Senhor.

Cabe, aqui, apenas apresenta-lo como sendo um dos artifícios religiosos mais empregados no universo das religiões cristãs, com o propósito de envolver e arrebanhar adeptos. Seguramente, não tem qualquer eficácia aos olhos do Senhor, uma vez que o acontecimento de valor para Ele já ocorreu no coração do convertido que crê.

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