A Obra de Deus

O que, ou qual é a obra de Deus?

 Pergunta simples, que tem uma resposta simples. O Senhor já nos deu a resposta (Jo 6:29; 9:3; Mt 11:2-6; Lc 7:21-23).

O que nos confunde é que existem dois tipos de obras: a humana, feita em nome de Deus, e a divina por natureza.

A obra humana é aquela que se manifesta nos atos humanos e é capaz de ser vista, analisada e julgada por olhos humanos, bem como ser produzida e repetida por qualquer humano. Assim, boas, ou más, obras humanas são aquelas passíveis de julgamento por conceitos, ou princípios, criados pelos homens, com base no que é considerado como bem ou mal. Em simples palavras, obra humana é aquela que o homem é capaz de fazer.

O conceito de bem e mal, por exemplo, é relativo na esfera humana, já que uma boa obra para uma pessoa, ou grupo, ou sociedade, pode não ser boa aos olhos de outros. Esta declaração nos parece estranha, à primeira vista, porém temos inúmeros exemplos ao longo da história e do nosso dia a dia.

O que para você parece um benefício, pode ser um prejuízo para outra pessoa, ou vice-versa. Por exemplo, certa vez, um irmão estava glorificando a Deus por ter pago menos, por cópias tiradas, quando o valor seria maior, pela quantidade de cópias que recebeu. Acontece que a moça errou na contagem e cobrou um valor a menor. Ele não percebeu na hora, embora tivesse achado estranho. Mais tarde foi conferir e viu o erro. Por isso glorificava a Deus, pela economia que teve, já que as cópias eram mensagens cristãs. No entanto, a pobre atendente, com certeza teve que pagar do seu bolso, pela diferença, quando foi feita a verificação do dia. Assim, o que parecia ser uma bênção para o irmão, acabou sendo um prejuízo, ou maldição, para a atendente. O impacto desde evento, com certeza, lhe foi muito maior do que para o irmão. É assim que trabalha a injustiça.

Daí podemos deduzir que o bom é bom se o for para mim, assim como o mal. Se ultrapassamos o limite do meu, com certeza estaremos invadindo o limite do outro. Ultrapassarmos o nosso limite não nos parece mal, quando nos satisfaz. Ele só passa a ser mal quando sofremos a repugna do outro que teve seu limite invadido, ou quando o outro invade nosso limite. É a partir desde momento que começamos a considerar, ou respeitar o limite do outro, “talvez”.

Portanto, na relatividade da esfera humana precisamos ser cuidadosos em nossos julgamentos. Não é sem razão que o Senhor nos exorta a não fazermos julgamento, não proferirmos juízo de valor sobre pessoas e ocorrências deste mundo (Mt 7:1-2, 4; Lc 6:39; Jo 12:48). Tudo aqui é incerto, porque não é referenciado na Verdade, e nem o pode ser, devido à pequenez da consciência humana, incapaz de conceber a Verdade.

Além disso, por natureza, o homem tem a tendência ao erro, à falibilidade, ao desvio, à transgressão. Fazer o bem geralmente exige esforço, determinação e sacrifício, pois está focado na necessidade do outro. Fazer o mal é muito mais fácil, pois o foco está em si mesmo, na satisfação de desejos e interesses próprios, mesmo em detrimento do outro.

O verdadeiro bom, ou bem, na esfera humana, acontece quando o outro, ou a coletividade, ou o todo, acaba sendo beneficiado, mesmo que a nossa pessoa seja prejudicada, particularmente. Esta é a parte difícil do bem e é por isso que não há muita motivação, ou ânsia, ou urgência em praticá-lo.

A obra divina, por outro lado, não é possível de ser realizada por atos humanos, porque está infinitamente além da capacidade ou potencialidade do ser humano. Está na imensidão do impossível humano. Só Deus é quem pode realiza-las.

Obra divina também esteve relacionada com a obra dos deuses, ou seja, obras além do natural. Também esteve associada às ocorrências extremas na natureza, como grandes tempestades, maremotos, terremotos, erupção vulcânicas, enchentes e soterramentos.

Quando aspectos naturais não estão envolvidos, são considerados obras mágicas, encantos, fantasmas ou espíritos. De qualquer forma, foram personificadas por um elemento natural na consciência humana.

A obra divina está associada ao mundo espiritual. O mundo espiritual é considerado a esfera dos espíritos. As ocorrências espirituais não podem ser produzidas ou reproduzidas pelo homem e, invariavelmente, este acaba sendo influenciado por elas.

Muito pouco, ou nada, sabemos sobre o mundo espiritual, além do que encontramos em escritos considerados sagrados, de conotação divina. Entre estes encontramos a Bíblia, o Alcorão, os Vedas, ensinamentos Budistas, Taoístas, Xintoístas e outros.

Aqui, eu vou usar referências bíblicas e vou considerar o mundo espiritual como sendo o mundo onde o Altíssimo habita, e a sua manifestação carnal entre nós, Jesus.

O Evangelho de Jesus, nosso Senhor, relata sobre as manifestações espirituais, sobrenaturais, que ele realizou, as quais chamou de a obra de Deus. Nenhuma outra fonte trás tantas informações quanto o Evangelho.

O conhecimento que podemos alcançar sobre as obras de Deus, embora muito incompreendidas pelos homens, nos oferece uma lógica certificável que exige abstração e inferência. O desconhecimento desta lógica produz a confusão sobre a atuação e conceitos relacionados a Deus.

O conceito de obra de Deus tem tudo a ver com a manifestação sobrenatural, na sua esfera mais superior e sublime. Afinal, é o trabalho realizado por Deus, é aquilo com que Ele se ocupa. É a especialidade de Deus.

Não é algo tão simples para o homem entender ou realizar. Ela está dissociada do que é possível ao homem conceber. Ela está intrinsecamente associada a tudo que é impossível ao homem imaginar. Resta lhe apenas experienciar o seu efeito no mundo material, com olhos arregalados, atônito e estupefato, frente à grandiosidade do inconcebível.

É impossível a um morto reviver, porém não o é no reino dos céus. É impossível a um paralítico de nascença se levantar e andar, porém não o é na realidade do céu. É impossível conhecer os pensamentos e os propósitos do coração do homem, mas não o é para o espírito que reina nos céus.

É impossível andar sobre as águas, mas não o foi para Jesus. É impossível ao homem repreender uma tempestade em um mar revolto, e torna-lo calmo, mas não o foi para Jesus.

É impossível, com dois pães e cinco peixes, alimentar cinco mil pessoas, mas não o foi para Jesus.

É impossível que, depois de passar toda uma noite sem pescar nada, somente ao lançar a rede para o outro lado do barco, ela venha superlotada de peixes, mas não o foi para Jesus.

A esta realidade do mundo de Deus, Jesus chamou de “reino dos céus”. O reino dos céus é personificado no Senhor Jesus aqui, entre nós. Portanto, o reino dos céus é chegado a nós, com todas as inimagináveis obras celestiais acontecendo perante maravilhados olhos humanos (Mt 3:2).

Quem mais realizou tantos sinais de divindade, tantas maravilhas nunca vistas, tantos milagres inconcebíveis?

Ninguém. Nenhum ser mortal nascido entre os homens, a não ser o Filho de Deus, o filho do homem, Jesus.

Deuses imortais? São só estórias e fábulas.

Ninguém neste mundo foi capaz de realizar estes feitos grandiosos, espetaculares, maravilhas sobrenaturais, na presença de dezenas, centenas de pessoas, ao vivo, a cores, à olho nu.

Nenhum deus, nenhum ídolo, nenhum filósofo, nenhum fundador religioso, nenhum ser mortal. Somente o espírito do grandioso e poderoso Deus, incarnado no seu filho Jesus, foi e é capaz.

Foi, enquanto no corpo carnal, Jesus. É, enquanto no corpo glorificado do Espírito de Cristo.

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Outro engano que leva à apostasia, ou seja, à morte espiritual devido à cegueira que impede ver a manifestação do pecado, é a realização de obras, corroboradas pela devoção, sem a ação da fé.

Obras sem a ação da fé são aquelas feitas pela capacidade humana, segundo a sua inferência do que acredita ser de agrado a Deus.

A devoção se manifesta por meio de obras que não necessitam de fé, apenas uma crença que a induz a fazer, a proceder obras externas, aparentes, acreditando que o ato exterior é de, e está agradando a, Deus.

O substituto humano para a fé é a crença. O substituto para a adoração em espírito é a devoção.

Com um bom punhado de dinheiro, esforço humano, certa influência social ou política, e toda sorte de materiais, qualquer homem realiza obras de homens.

Porém, a obra de Deus que não lança mão de nenhum destes recursos, só pode ser realizada por Deus, através de seus instrumentos.

É insensatez confundir a obra de Deus com a obra do homem, ou atribuir à obra do homem o status de obra de Deus.

É insanidade sequer supor que o homem comum, natural, leviano, cheio de falhas e erros possa realizar a obra de Deus. Quando muito, este pode e deve ser um instrumento nas mãos do Espírito, como o veículo humano de realização da Sua obra, da mesma forma como o tabernáculo Jesus o foi. E é isto que o Senhor nos comissionou a ser. Instrumentos de divulgação dos seus ensinamentos e testemunho vivo para todos os povos.

A resposta simples que o Senhor já nos deu sobre a obra de Deus não é bem vista entre os religiosos do cristianismo, porque não vai de encontro aos seus interesses materialistas (Jo 6:28-29). Afinal, eles precisam de bens e finanças para existirem e perpetuarem. Portanto, eles precisam fazer com que os adeptos acreditem que o que eles estão buscando e fazendo é a grande e poderosa obra de Deus.

O que vemos é o trabalho humano sendo exaltado à glória do trabalho de Deus, para ludibriar os simples e leigos, em prol de interesses mesquinhos. Falta-lhes focar e buscar a verdadeira obra de Deus que o Senhor nos ensinou. Falta-lhes crer naquele que o Pai enviou. Falta-lhes nascer de novo, do Espírito. Falta-lhes o reino dos céus.

 O Senhor manifestou a obra de Deus por meio de sinais e maravilhas sobrenaturais que atraíram o povo para ouvir a sua mensagem de salvação e vida eterna.

A fé no Senhor Jesus é que nos faz realizar os sinais, e maravilhas sobrenaturais, para atrair os descrentes e leva-los a ouvir a mensagem de salvação e de vida eterna do Senhor Jesus.

O ouvir e crer na palavra do Senhor é uma ação que somente o Espírito Santo é capaz de realizar (Rm 10:17).

O que Jesus mandou dizer a João, o batista foi suficiente para que este reconhecesse o Filho de Deus (Mt 11:4-6). As obras foram o sinal, pois não foram obras humanas, e João sabia disso.

No evangelho de João encontramos diversas referências que esclarecem o que é a obra de Deus (Jo 5:20-21,36; 6:28-29; 7:21; 9:3-4; 10:25,32,37-38; 14:10,12; 15:24; 17:4). Nele podemos ver a grandiosidade do Filho de Deus realizando a obra do Pai.

A obra do Pai é realizada quando um pecador vem a crer no enviado dele, o Senhor Jesus. E para que os homens, desiludidos com a hipocrisia humana, venham a crer no Filho de Deus, Ele realiza, por meio do Filho, magníficas obras, impossíveis para o homem natural realizar. Estas são as verdadeiras obras de Deus.

Não tem nada a ver com construções de igrejas, templos, sinagogas, mesquitas, ou qualquer outro estabelecimento de cunho religioso. Nada tem a ver com a institucionalização de organizações religiosas, seminários, faculdades e associações. Nada tem a ver com a estruturação de hierarquias espirituais, ditas eclesiásticas, como guias espirituais de adeptos.

 Nada tem a ver com o crescimento numérico de adeptos às estas instituições. Nada tem a ver com o crescimento financeiro, acumulo de bens e riquezas, ostentação do confortável luxo religioso. Nada tem a ver com a aplicação de programas sociais, ajuda humanitária, atendimento às necessidades dos pobres, aos menos favorecidos e de portadores de necessidades especiais.

Nada tem a ver com os discursos de púlpito, “pregações”, shows musicais, danças e alegorias de entretenimento religioso. Nada tem a ver com a celebração de cerimônias sacramentais, rituais como o batismo, a santa ceia, orações coletivas, a vigília de orações, a apresentação de crianças, o matrimônio, o funeral e missões evangelísticas.

Nada tem a ver com o fazer humano que qualquer humano pode reproduzir.

Eu pergunto: não existem pessoas com necessidades especiais nas igrejas?

Se existem, porque ainda estão aprisionadas nesta condição?

Por que ainda não foram curadas pelo poder do Espírito?

Será que elas desejam estar e permanecer nesta condição?

Ou, será que o Espírito não é atuante por meio dos crentes, no seu meio?

Parece-me que nestas igrejas, o Espírito se faz ausente.

É muito mais fácil oferecer um tradutor de libras para quem não pode falar e ouvir. É muito mais fácil reservar um local à frente para que os cadeirantes possam se posicionar. É muito mais fácil adaptar um sanitário para pessoas com deficiência de locomoção.

Difícil é para eles, humanos, crentes nominais realizarem curas de libertação, em nome do Senhor. Difícil é para eles ter a fé de Pedro (At 3:6). Eles não querem correr o risco de saírem carregados, como aconteceu com Ananias e Safira.

As obras humanas tem o enorme potencial de camuflar a hipocrisia, de atender a interesses parciais, particulares e egoístas do homem (Mt 23:3,5; Jo 3:19).

Os israelitas, ou judeus, serão julgados segundo as obras da Lei.

Os crentes verdadeiros no Senhor Jesus, de todos os povos, já estão sob juízo, não por sua crença, ou obras realizadas, mas por sua fé no, e adoração ao, Filho de Deus (Mc 16:17-18).

Os que tiveram a oportunidade de ouvir a mensagem de salvação em Jesus e não obedeceram, já estão condenados (Jo 3:18; Tt 3:10-11; Hb 6:6).

Os que não tiveram a oportunidade de conhecer a mensagem de salvação do Senhor, precisam ser alcançados pelos crentes disponíveis para serem instrumentos de salvação do Senhor.

Nestes sim, podemos ver Deus agindo, Deus trabalhando por.

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