A Palavra de Deus

É aquela que sai da “boca”[1] de Deus (Hb 4:12-13).

 Quando falamos sobre Deus, buscamos uma referência que julgamos ser a mais perfeita expressão da Verdade sobre Ele, porque é por esta referência que queremos orientar nossos pensamentos, nosso entendimento e, principalmente, a nossa adoração.

Nesta questão, acredito que todos hão de aceitar, existem apenas duas referências fidedignas que não são resultados da ação humana e são inequívocas.

A primeira delas está a menos de um dedo de distância de nosso nariz, bem à frente de nossos olhos. É a natureza, a criação de Deus. A segunda está dentro de nós, é o Espírito de Deus.

A natureza é a nossa realidade, a prova por si mesma da criação de Deus que fala sobre ele, e mantém seu registro intacto, desde a criação.

Quanto ao Espírito de Deus, por ser de natureza espiritual, é preciso termos plena convicção de que é realmente o Espírito de Deus. Uma vez provado, podemos mal interpretar suas mensagens, mas não podemos questionar a autenticidade delas e de sua origem.

É comum, no cristianismo, ou nas religiões cristãs, vermos o termo “Palavra de Deus” associado à bíblia. Ela é considerada sendo a única referência da Verdade aceita. É considerada sagrada, perfeita, única e genuína Palavra de Deus. Não pode ser contestada, questionada, menos creditada, descreditada ou desacreditada.

Com esta postura doutrinária, o cristianismo nos tolhe e enfaticamente nos desestimula de considerarmos a sua natureza humana.

Porém, aqui, eu vou considerar a sua humanidade.

Lembremos que a bíblia é um objeto material, um livro, matéria física, como pergaminhos e papel, composta de diversos livros, narrados e escritos por seres humanos. Sim, seres humanos, como qualquer um de nós. O único registro, descrito pelos escritores da bíblia, que o dedo do próprio Deus fez, foram quebrados por Moisés.

Em sua composição, as Escrituras, ou o Antigo Testamento é resultante de mil e quinhentos anos de registros, focados na história de como o Deus de Israel tratou com o seu povo, um povo desobediente e de dura servis.

Já o Novo Testamento é uma coletânea de diversos escritos, registrados durante um período bem curto e impreciso. Nele observamos que o tema principal é o nosso Senhor Jesus, o Salvador. Nem todos foram considerados, pelo homem, dignos ou fiéis de fazer parte da bíblia, por diversas razões humanas.

Como a bíblia foi escrita por homens e a natureza do homem sempre esteve presente, precisamos considerar a forma como as mensagens foram recebidas originalmente, a forma como foram transmitidas oralmente, a forma como foram compreendidas as transmissões orais, a forma como foram registradas, a forma como foram copiadas durante as eras que sucederam e, a forma como foram traduzidas para diversos idiomas.

Sendo um livro, ou uma composição de livros escritos em linguagem nativa da sua época, teve de passar por diversos trabalhos de tradução. A interpretação do registro original numa língua arcaica, escrito em épocas arcaicas, por meio de tradutores não nativos, distantes do momento histórico, com o conhecimento incompleto da língua origem e da realidade das épocas de origem, produziram novos textos que, com certeza, são impossíveis de serem fiéis à mensagem original, podendo haver erros inadvertidos ou até propositais, segundo os interesses daqueles que patrocinaram os trabalhos.

Considerando estes interesses, eu sou mais propenso a crer que os originais hebraicos, apesar de todas as interferências humanas, culturais e de conhecimento, ainda são mais confiáveis do que os escritos, em grego, do Novo Testamento, devido ao zelo com que os copistas hebreus se aplicavam ao processo de escrita e reprodução.

Você pode perguntar: qual é a base ou fundamento destas minhas declarações?

Não sou eu quem vai te responder. A variedade de traduções e versões existentes hoje é quem responde. Elas são a evidência da falta de zelo e compromisso com a originalidade e a Verdade, atitude contrária à dos copistas hebreus. Se assim não o fosse, haveria apenas uma, ou, quando muito, duas versões.

Experimente comparar estas novas versões com as mais antigas e verá discrepâncias e desvios de significados, de forma que já não se sabe mais qual foi o original, se é que houve um, algum dia.

Não podemos mais por fé, nem mesmo nas versões antigas, pois estas também tiveram de ser traduzidas de originais que não temos a menor possibilidade de atestarmos se realmente eram originais.

Onde estão os, considerados, originais?

Dizem que estão no Vaticano, ou em alguns museus de acesso controlado, pelo mundo afora.

Você vai precisar de muito dinheiro e certo prestígio, do tipo, ser um famoso historiador, ou um famoso jornalista, ou um famoso em alguma coisa, para poder viajar e ter acesso, atrás de uma vitrine, a poucos deles. Terá que pagar por cópias para desenvolver teu estudo particular, desde que saiba a língua nativa em profundidade, como já mencionei. Aí, você vai desistir porque vai entender a tua fragilidade frente a um monstruoso desafio que irá te ocupar por duas ou três de tuas vidas, se você as tiver disponível.

Por outro lado, se você quiser pesquisar e ir a fundo na história do surgimento destes ditos originais, principalmente dos Evangelhos, você vai se deparar com tantas imprecisões em relação aos períodos em que foram escritos e seus autores, que recairá na mesmice do que já se sabe: nada se sabe com certeza! Mas eles estão aí e temos que confiar que são, acreditar que são e usá-los como “originais”.

Por exemplo, “dizem” os estudiosos religiosos que é incerto, quanto ao autor e o período em que o evangelho de Marcos foi escrito. Supõe-se que tenha sido escrito por volta dos anos 70 d.C.[2] e que tenha sido o primeiro dos quatro Evangelhos. Sendo assim, os demais foram escritos depois, por quem nunca esteve presente aos eventos que ocorreram, pois os apóstolos, provavelmente, já haviam falecidos, restando unicamente o apóstolo João que escreveu o Apocalipse.

Ainda mais, Marcos e Lucas não foram apóstolos, apenas evangelistas. Lucas, ao escrever seu Evangelho, foi sincero ao relatar que, por ordem de alguém que ele identificou como Teófilo, fez uma “pesquisa minuciosa” buscando se informar de todos os fatos ocorridos no “princípio” e que “foram transmitidos” por aqueles que viram e estiveram com o Senhor (Lc 1:1-4).

O problema que ele enfrentou foi que os relatos eram contados por aqueles que ouviram de alguém e que passavam de um para outro. Tanto Lucas quanto Teófilo já tinham ouvido alguns destes relatos, mas não tinham certeza das coisas que ouviram. Portanto, o Evangelho de Lucas é o apanhado minucioso destes relatos, desde que estes se mostrassem certos e coerentes, por meio de repetidos depoimentos.

Agora me responda: por que tantas traduções e versões?

Por que não há um consenso definitivo, já que estas versões são produzidas com base nos mesmos “originais”?

A resposta deve estar atravessada na tua garganta, eu sei. Deixe-a sair. Abra os olhos, permita-se enxergar a verdade.

≈ ≈ ≈

A bíblia não pode ser a expressa Palavra de Deus. Ela não tem esta capacidade e nunca poderá ser capaz de representar o Altíssimo, pelo simples princípio de que a Palavra de Deus existe pelo mesmo tempo[3] que Ele existe (Sl 119:160). Logo, ela é atemporal, onipresente, onisciente e onipotente, porque ela é Deus. É impossível que um livro possa conter a plenitude Dele, da Sua Palavra.

Como consequência deste princípio, nenhum objeto pode materializar, personificar ou expressar a plenitude de um ser que, por natureza, é imaterial, espiritual, infinito, absoluto e eterno. Quando muito, a bíblia pode conter relatos sobre ação de Deus, escritos por pessoas específicas, em assuntos específicos, para pessoas ou povos específicos, em específicos períodos de tempo e com um propósito bem específico. Estes relatos foram feitos por pessoas que estavam condicionadas e limitadas aos seus estados de consciência, na época em que viveram.

É evidente que qualquer registro feito em forma impressa tem o propósito de narrar uma história para que os que vierem depois possam conhece-la e dar continuidade, perpetuando assim a sua existência.

História, portanto, é uma composição de descrição e narração de eventos, registrado através de palavras ou imagens, com uma conotação puramente teórica e ilustrativa, carregada com aspectos sentimentais, emocionais e psicológicos do escritor ou narrador, no momento em que registra.

Ao lermos ou ouvirmos uma história imaginamos o evento, isto é, criamos uma representação imaginária em nossa mente que apenas se aproxima da realidade do evento. Uma história sempre nos remete ao passado, diz respeito ao passado e como não estávamos lá, nunca poderemos apreender os eventos ocorridos.

A Realidade, entretanto, é um fato, é concreta, real, presente, existente, independente do momento em que se vivencia a experiência e é capaz de ser observada por todos.

A Realidade é a vivência que estimula as sensações e emoções do experimentador. A realidade passa a existir para o experimentador apenas no seu presente e na sua mente. Ela é modelada na sua mente por meio de símbolos que a representam, apreendida por meio dos cinco sensores ou sentidos humanos.

Assim, a interpretação desta realidade, pelo experimentador, é limitada pelo seu estado de consciência e, portanto, é individual. Não se pode generalizar ou determinar como real, como Verdade, para todos. Daí, inferimos que a Verdade, a absoluta, é muito superior e plena, universal e muito mais excelente que qualquer verdade particular ou individual. É impossível ao ser humano alcança-la em sua plenitude, a não ser partes dela, por fé e por insights revelados.

Em se tratando da Palavra de Deus, ela provém da realidade absoluta de Deus. Por sua palavra podemos conhecer a sua realidade, a qual independe de ser visível ou não, observável ou não, concebível ou não.

Atributos de um ser cuja natureza é infinita e eterna, conceitos esses que são inconcebíveis para a consciência humana, não podem ser atribuídos a nenhum objeto material ou imaterial que sofreu a influência de códigos, percepções e interpretações da mente humana, e, menos ainda, a um livro ou coleção de livros, mesmo que enchêssemos este mundo de livros.

A Palavra de Deus é exatamente o que o termo expressa: é aquela que sai da “boca” [4] de Deus. Ela não pode ser registrada em qualquer forma humana, considerando as limitações e restrições humanas. A sua maior evidência material e visível é o mundo criado.

O Universo e toda a natureza são o mundo que Ele criou, os seres que Ele criou com o abrir da sua “boca” e o “soar” do Verbo. Eles não foram modificados, alterados inadvertidamente ou adulterados propositalmente, segundo a vontade humana e permanecem como foram “escritos” na sua origem, desde o princípio de tudo.

A primeira palavra que saiu de sua boca, relacionada à nossa existência neste mundo, foi “haja luz”. E houve luz. Portanto, quando Deus fala, ele cria, ele torna real, ele faz ser e existir.

A Sua palavra controla a natureza e ordena os movimentos do Universo. O que não existia passa a existir, o que é impossível aos nossos olhos, torna-se real, o que não era passa a ser.

Ela é viva e não, letra morta escrita em pedras, papiros, ou folhas de papel.

Ela é eficaz, pois quando manifestada, produz frutos, resultados reais, inequívocos.

Ela é penetrante, pois só ela é capaz de revelar os segredos do coração, os pensamentos e intenções da mente humana. Ela tem o domínio sobre as potestades espirituais e tudo está submisso a ela.

Ela é a Vontade de Deus manifesta, pois ela é Deus (Rm 1:20; Hb 4:12-13; Jo 1:1).

A Palavra de Deus veio para os filhos de Israel, o povo escolhido de Deus, por meio dos profetas de Deus (Hb 1:1).

Noé ouviu a Palavra de Deus e construiu a arca que foi a sua salvação, pois a Palavra de Deus se tornou real no encher das águas – lembre-se que isto era impossível de acontecer, pois não havia ainda chovido sobre a terra e, portanto, ninguém sabia o que era chuva, ou chover.

Abraão ouviu a Palavra de Deus e deixou a sua terra com a promessa de encontrar uma nova terra para habitar e gerar a sua descendência; a sua fé na Palavra de Deus lhe justificou, pois ele deixou tudo para trás, sua vida e seus deuses e encontrou a terra prometida.

Moisés ouviu a Palavra de Deus e escreveu a Lei que iria reger o Seu povo. Pela Palavra de Deus ele guiou aquele povo pelo deserto e, por ela, o impossível e fantástico tornou-se real aos olhos humanos.

A Lei de Moisés foi o primeiro registro do povo judeu, de cunho nacional, isto é, orientado para a nova condição de povo escolhido de Deus. Daí em diante, sempre houve grande preocupação em registrar eventos, históricos e religiosos, principalmente as genealogias, com o fim de passar para os descendentes as leis e preceitos de Deus.

O povo de Israel não ouviu a Palavra de Deus, que veio aos Seus profetas, e transgrediram a Sua Lei, pecaram contra o seu Deus e a pena pela sua desobediência tornou-se real no exilio. Judas Iscariotes não ouviu a Palavra de Deus, traiu o seu Salvador, e sentiu o peso da Sua Palavra na morte horrenda. Os líderes religiosos, sacerdotes, escribas, Fariseus, doutores da Lei, e o povo da época de Jesus não ouviram a Palavra de Deus que veio pelo Filho de Deus e sofreram a destruição de cidade santa e a perseguição, peregrinando pelo mundo, sem nação.

A Palavra de Deus veio a nós e a ouvimos de Jesus, na hora da salvação, por meio da pregação do Evangelho de Deus. Deus visitou o seu povo, levantou um grande profeta, o profeta da plenitude, abriu a Sua boca, e falou por meio do Seu tabernáculo. E a sua palavra é o Poder de Deus para a Salvação de todos os que creem nele (Rm 1:16). Desde então, não há outra Palavra de Deus para nós, pois o próprio Deus abriu a sua boca e a pregou para nós. Ela é o Seu Evangelho, a verdadeira Palavra de Deus que é suficiente para a nossa salvação (Rm 1:16; Hb 1:1).

≈ ≈ ≈

Espere um pouco! Você diria neste momento.

O Evangelho que conhecemos, a história judaica, o plano de Salvação, os atos dos apóstolos, só os conhecemos porque foram escritos na bíblia.

É parcialmente verdade, eu respondo, mas aguarde mais um pouco que você terá a minha resposta completa.

O zelo judaico pelo registro de seus eventos influenciou fortemente aos primeiros cristãos a registrar os eventos e fatos que envolveram a vida de Jesus Cristo e a missão dos apóstolos. Estes, por sua vez, escreveram cartas de encorajamento, exortação e instrução aos grupos de convertidos, nas cidades por onde eles passaram.

Jesus, porém, não disse que escritos seriam a forma de Deus estabelecer a sua igreja. Ele sabia que registros podiam ser modificados, ou adulterados.

Lembremos que Israel recebeu um livro para orientá-lo no caminho do Senhor. A nós, foi nos dado o receber do Seu Espírito, em vez de um livro.

As Escrituras afirmaram que a Palavra de Deus seria escrita nos corações daqueles que cressem. Nos seus entendimentos Ele poria as Suas Leis. Não haveria a necessidade de um ensinar o outro, porque Ele seria conhecido de todos, quer fosse criança, ou adulto. Por isso eles seriam o Seu povo e Ele, o seu Deus. Ele seria misericordioso para perdoar as suas iniquidades e delas não mais se lembraria. O seu sangue purificaria as suas consciências das obras mortas. Elas serviriam a um Deus vivo.

Você ainda não encontrou a lei do Senhor escrita em seu coração?

Você não alcançou o entendimento da lei que ele poria em seu coração?

Você sente a necessidade de que alguém te ensine sobre o Senhor e o viver no Espírito?

Você ainda não conhece o Senhor?

Tem certeza de que você sabe que o teu deus é o verdadeiro Deus?

Você não sente que tuas iniquidades foram perdoadas?

Tua consciência ainda não foi purificada das obras mortas?

O teu deus é um deus vivo, ou morto?

Sabemos que a Palavra de Deus é a Verdade, a absoluta. E a verdade é que nos santifica, em Cristo Jesus (Jo 17:17-19).

A verdade é a luz que manifesta as obras.

Quem pratica a verdade vem para a luz que tudo revela (Jo 3:21).

Jesus Cristo foi quem trouxe a verdade e a graça para nós (Jo 1:17).

A sua palavra é a Palavra de Deus que nos dá a verdadeira liberdade. Se ele nos liberta, verdadeiramente somos livres (Jo 8:31-32,36).

Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6-7). A Verdade está nele e se não for por ele ninguém chega ao Pai e tão pouco o conhece (Jo 14:17; Ef 4:21).

Quando Jesus está conosco, o seu espírito, o Espírito da Verdade, também está em nós e ele é quem testifica de Cristo e nos guia em toda a Verdade (Jo 15:26; 16:12; 17:17).

Ele é quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Se dissermos que não temos pecado estamos enganando a nós mesmos e não há verdade em nós (1Jo 1:8).

Se guardarmos a sua palavra, o amor de Deus está aperfeiçoado em nós, e isso é um sinal de que estamos nele (1Jo 2:5).

Deus, o Filho Jesus, a Vida, o Espírito, a Palavra e a Verdade são UM (Jo 6:63; 1Jo 5:6,7)!

Deus não se deixa escarnecer. A Sua Palavra é santa, é sagrada, e somente sai de sua boca. Nunca iremos encontrar a Sua Palavra saindo de bocas humanas, mesmo que a estejam lendo na bíblia ou em qualquer outro livro, porque o Senhor não usa mais os homens para falar a Sua Palavra.

A Sua Palavra estava contida na Lei e foi profetizada pelos profetas até João, o Batista. O “enviado” [5] do Pai, Seu Filho Jesus as cumpriu, pois, todas as profecias lá contidas convergiram para este enviado, o MESSIAS.

A palavra dele é a Palavra de Deus para nós agora (Mt 11:13; 3:15). Não há necessidade de outro profeta, com outra mensagem, pois não há maior profeta do que ele e não há mensagem mais sublime e poderosa para salvar do a que ele nos deu.

Eu pergunto: qual foi a bíblia que Noé, Abraão, Isaque, Jacó e Moisés tiveram acesso para ler e aprender de Deus?

Eles não tinham nada escrito ou registrado além do relato oral, mas tinham a bíblia viva. O próprio Senhor na presença deles, falando com eles. Com tamanha revelação divina, eles o adoraram verdadeiramente, creram e foram fiéis. Eles receberam a Palavra de Deus diretamente da boca de Deus.

Por que não pode ser assim conosco, como foi com eles?

Por que aceitamos e cremos que só podemos ter algum conhecimento de Deus se tivermos livros disponíveis?

E pior, por que aceitamos que se não tivermos estes livros não podemos conhecer a verdade e a vontade de Deus?

O conhecimento que vem pela bíblia é substituível pelo, e incomparável com o que vem do seu Autor.

Se a mensagem dos primeiros crentes tivesse permanecido fiel ao passarem oralmente, sempre buscando a vindicação do Espírito para toda história e ensino da vida do Senhor, não teria sido dado espaço para o registro em papel.

Porém, com o passar do tempo, os primeiros crentes se foram e os que vieram se afastaram da origem, e não mais sentiram o fervor do Espírito.

Não restava mais nada a fazer, senão seguir a ordem natural do homem religioso. A sua tradição os ensinava assim, e eles assim procederam.

Jesus não escreveu nenhum Evangelho. Os discípulos ouviram diretamente da boca de Deus, o Senhor Jesus, e ainda assim não o creram. Na qualidade de apóstolos, depois de terem sido aprovados pelo, e revestidos do Espírito de Cristo, no Pentecostes, eles creram, tornaram-se testemunhas da Palavra viva e morreram por ela.

Foi uma mudança radical, para aqueles que negaram e fugiram, quando da prisão do Senhor Jesus.

Entendamos que não se tratou de uma mudança de ideia, ou de crença, mas de uma regeneração de consciência e de ser.

 Por muitos anos, enquanto vivos, estes anunciaram o Evangelho de Jesus, e nunca tiveram a ideia de registrar esta mensagem. E os convertidos, o foram, não por causa de registros, ou da ação dos apóstolos, mas pela presença e poder do Espírito, provando a veracidade do evangelho anunciado pelos apóstolos, neles mesmos, em seus corações, através do poder do Espírito, manifestado em sinais e maravilhas.

Sim, porque o Senhor Jesus estava vivo e a sua Palavra e o seu Espírito eram vivos (Jr 31:33-34; Hb 8:10-12; 9:14; Rm 2:15). Sendo a Palavra e o Espírito, um só ser, o Espírito Santo, passou a ser o guia deles, aquele que os ensinava, que os fazia lembrar de todas as coisas que o Senhor disse, que manifestava o poder de Deus, pela fé nele.

Os primeiros crentes no Senhor não tinham nenhum livro, nenhuma bíblia, e eram verdadeiros crentes, pois deram suas vidas pelo nome de Jesus. Não haviam doutrinas, ou rituais estabelecidos, ou sacramentos obrigatórios a serem cumpridos, ou autoridades a serem cortejadas, ou dogmas de fé a serem confessados. Mas a fé daqueles crentes era genuína e a certeza da vida eterna valia mais do que suas vidas.

Eu pergunto: o que lhes dava tanta confiança? Tanta certeza? Tanta segurança? Tanta ousadia?

Com certeza não era uma crença em histórias escritas, pois não as tinham.

Com certeza era a presença do Senhor entre eles e em seus corações, a unção do Espírito e o poder de realização do impossível.

Com certeza eles não estavam preocupados com segurança de suas vidas e famílias, mas estavam cuidadosos pela promessa cumprida em cada vida, pela realidade da salvação da morte e do inferno, pela experiência da vida eterna, ainda que vivendo em seus corpos mortais.

Aí está a verdade que não conseguimos digerir.

Por que não é como foi no princípio da Igreja de Jesus?

Por que temos que ter livros para aprender sobre Deus?

Por que não conseguimos aceitar a ideia de que o Espírito vive, está em nós, se move ao nos mover, age ao nos fazer agir, nos ensina, nos guia, fala por nossa boca ao anunciar o Evangelho do Senhor?

De onde surgiu a ideia de que precisavam registrar em letra, para que a posteridade pudesse vir a conhecer a mensagem de Deus, quando o próprio Jesus já nos tinha dado, como seria a sua forma de agir nos futuros convertidos (Lc 12:12; Jo 14:18,26; 1Co 2:12-13; 1Jo 5:6,8)?

Todas as religiões do mundo se baseiam em livros sagrados. Não há uma sequer que escape deste atoleiro.

Se o Evangelho que conhecemos, só o conhecemos porque está escrito na bíblia, acabamos de concluir e provar que estamos muito longe da Verdade do Evangelho de Jesus. Se é esta a única forma de conhecermos sobre a salvação provida pelo Messias, então o próprio Jesus estava errado e nos ensinou enganosamente. Se o Evangelho é somente o que está escrito na bíblia, então este se contradiz, pois nos ensinou outra coisa.

Se a bíblia for completa, temos de aceitar que não precisamos mais da ação de Deus, pois ela contém a resposta e nos informa tudo sobre a Sua pessoa. E como é um objeto que substitui a Deus, passa a ser um ídolo.

É flagrante a incoerência destas ideias que provam a grande mentira do cristianismo, nos fazendo aceitar apenas o que foi dito e ensinado por dois mil anos. É urgente a reflexão em busca da Verdade, por não conseguimos mais encontra-la na sua forma pura e original.

Você já chegou a pensar na enorme quantidade de sangue inocente que foi derramado para que a bíblia estivesse aqui, hoje?

Será que ela pode representar algo de Deus, com um histórico de morte tão horrível?

O inimigo de Deus sabia que tinha de criar um símbolo humano, um objeto que desviasse o foco do espiritual de Deus para o carnal humano, com sacralidade suficiente para substituir a adoração focada no Espírito, para a adoração focada na coisa humana. Já tinha obtido sucesso com os povos pagãos e precisava ter sucesso também com os crentes em Jesus.

A religiosidade demanda a adoração a algum símbolo, ou objeto, ou pessoa que representa um deus. Como a mensagem de Jesus repudiava a adoração a qualquer ser humano, ou ídolos, então estas formas não poderiam dar certo. Foi preciso usar, gradativamente, da religiosidade da Lei judaica, infiltrando-a sorrateiramente, por meio dos cristãos judaicos.

Paulo teve um enorme problema com a oposição que estes faziam ao evangelho que ele pregava. Eles buscavam, a todo o custo, introduzir os costumes e tradições judaicas entre os gentios. Lamentavelmente, por meio deles, o inimigo conseguiu seu intento e a religiosidade mesclou e desvirtuou a mensagem original do evangelho.

A igreja romana foi o ambiente propício para o desenvolvimento da religiosidade. Com o costume judaico veio a frenética observância das escrituras como sagradas e a ânsia pela preservação destas, levou à valorização de escritos, como as cartas de Paulo e de outros apóstolos, bem como os escritos que seriam mais tarde chamados de Evangelhos.

O zelo judaico por registros, por Escrituras, contaminou as lideranças da igreja romana, levando-a a buscar e coletar todos os escritos que podiam ser encontrados no primeiro século. Assim ela formou um grande acervo de registros que precisava ser organizado, para definitivamente ser usado como base para a fé cristã nas suas igrejas. Isto só veio a ser realizado quando o imperador Constantino se tornou cristão.

Com o Estado, ou império, agora em vias de ser cristianizado, vieram os concílios e, com eles, a formação do que conhecemos como a bíblia Sagrada.

O inimigo finalmente conseguiu criar um ídolo sagrado que substituísse a adoração a Deus. E com efeito, a bíblia foi e é até hoje este ídolo sagrado, a tal ponto que o que nela está escrito vale mais do que o Espírito fala.

Em defesa dela e do cristianismo, as Cruzada, a inquisição e a defesa da igreja, assassinaram centenas de milhares de inocentes na guerra santa, ou simplesmente por acusação de heresia ou bruxaria. Era proibido ser contra a igreja, contra a bíblia, contra sua doutrina, suas autoridades eclesiásticas, contra o Estado cristão na figura do Papa, o imperador.

 Os crentes que se opunham a esta força eram penalizados, torturados, queimados vivos, enforcados em praça pública, massacrados a título de exemplo, para inibir qualquer outro levante ou oposição.

Milhares de inocentes perderam suas vidas porque ousaram se opor aos dogmas e doutrinas impostos por esse movimento cristianizado.

Por acaso, o leitor já chegou a pensar que, aqueles que foram acusados de bruxaria, poderiam ser instrumentos usados pelo Espírito, manifestando o poder de Deus de forma sobrenatural, em curas, sinais e maravilhas?

Se assim foi, certamente eles se tornaram uma afronta e um perigo à religiosidade da igreja estatal.

≈ ≈ ≈

A bíblia está em nosso meio até hoje. A reforma protestante não foi suficiente para desmistifica-la de sua sacralidade. Muito pelo contrário, veio reforçar ainda mais, como sendo a Verdade sobre todas as coisas, a genuína Palavra de Deus.

Você poderia questionar: mas por que você usa as referências de um livro que não representa a iniciativa de Deus?

A bíblia, como qualquer outro livro, nos conta uma história e é preciso ter conhecimento dela para que possamos emitir algum juízo de valor.

Esse é o ponto chave. A emissão do juízo de valor e de verdade. Este ocorre dentro de nós e é neste local e momento que o Espírito testifica se é verdadeiro.

Você pode ler qualquer outro livro, incluindo este que escrevo, mas o juízo que você fará dependerá exclusivamente do que Espírito irá te orientar e não, do grau de sacralidade que alguém que você nunca viu, que você não tem a menor noção de quem é, definiu sobre o livro que você lê.

Se você der esta oportunidade para o Espírito da verdade, ele falará do que lhe é próprio, a Verdade. Se for para o espírito de engano, ele falará do que lhe é próprio, a mentira na forma de uma falsa verdade (Rm 8:27).

Hoje, em nossos dias, Deus nos fala por meio do Filho. E o Filho rogou ao Pai para que enviasse o Consolador (Jo 14:16-17), o Espírito Santo, o Espírito de Cristo, o Espírito da Verdade, que testifica de Cristo e da Verdade (Jo 15:26). Ele veio para habitar em nós, para nos guiar em toda a verdade, para nos falar a Palavra de Deus, para nos anunciar o que há de vir (Jo 16:13), para nos ensinar todas as coisas, nos fazer lembrar de tudo quanto Jesus nos ensinou (Jo 14:26) e para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8).

Não precisamos de mais nada, pois já temos tudo. Temos o Espírito de Deus.

Você acredita na existência deste Espírito?

Se sim, você só terá que deixa-lo abrir o teu entendimento.

Se não, você terá que se basear na letra morta, no faça isso e deixe de fazer aquilo, no que está escrito em tábuas de pedra.

Infelizmente, esta forma só interessa para a religiosidade e te levará à surdez e cegueira espiritual.

Este Espírito da Verdade é o único que é capaz de receber do Pai, e nos anunciar. Ele é o único que é capaz de comunicar ao Pai as nossas petições, pois não sabemos como pedir (Rm 8:26). E todos temos acesso a este Espírito, não sendo necessário ouvirmos a “Palavra de Deus” por meio de outras pessoas.

Se ouvirmos ao homem, estaremos rejeitando o grande e único Pastor, o profeta da salvação, e aceitando falsos profetas, levantados por aquele que quer, a qualquer custo, nos impedir de sermos salvos.

Aquele que busca a Palavra de Deus por meio de homens, ou registros, está semeando na carne, e, portanto, ceifará a corrupção. Aquele, porém, que busca a Palavra de Deus por meio do Espírito de Deus está semeando no Espírito, e, portanto, ceifará a vida eterna (Gl 6:7-8).

Precisamos e devemos ter sempre em mente que tudo que diz respeito a Deus, ao nosso Senhor Jesus, à vida eterna, tem de ser vindicado pelo Espírito Santo em manifestações sobrenaturais. Se não houver esta comprovação do Espírito, não é de Deus.

Para tudo o que você ler na bíblia, ou qualquer outro livro, peça a comprovação do Espírito. Se o que você ler tiver a origem em Deus, ele vai te mostrar em sinais, em sonhos, em visões.

Não espere um retorno vindo de homens, pois o Espírito é idôneo por si mesmo e não necessita de suporte humano.

Observe a natureza. Aprenda com ela. Ela é a manifestação real, concreta da palavra de Deus. Ela representa o conhecimento de Deus, a vontade de Deus, a perfeição de Deus (Rm 1:20).

É necessário ter olhos e ouvidos espirituais. Não olhe somente o que os teus olhos carnais podem ver. Não ouça somente o que os teus ouvidos carnais podem ouvir. Está além daquela imagem que vê e daquele som que ouve.

Não se trata de admirar a paisagem, ou lamentar uma catástrofe, ou se agradar com o canto de pássaros. Você não deve ser observador do óbvio. Você tem de olhar com os olhos do Espírito e ouvir com os ouvidos do Espírito.

Enquanto teu foco, tua energia, tua consciência com teus valores e princípios concentrarem-se no teu eu material e na tua interação com o mundo material, o exterior, você nunca alcançará o conhecimento de Deus ou enxergará a sua grandeza. Sintonize o teu interior, o teu espírito com o Espírito que governa a criação.

As árvores em um bosque tendem a crescer todas do mesmo tamanho. Aquela que se sobressair às demais será eliminada por uma descarga elétrica. Porém, juntas e de igual tamanho, todas poderão crescer, sem perigo e superar a força dos ventos (Mt 20:26).

Vegetais e animais da mesma espécie são encontrados em concentrações, enquanto que em outros lugares, nenhum. A afinidade é que une (Mt 24:28).

A beleza natural é usada como estratégia de atração da vítima, em vez de beleza para ser contemplada. Não se deixe enganar pela aparência (Mt 22:16).

As aves do céu, não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, mas não lhes falta alimento (Mt 6:26).

Os lírios do campo crescem; não trabalham nem fiam, mas são vestidos com esplendor (Mt 6:28).

O grão de mostarda é a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos (Mt 13:32). O tamanho não revela a excelência.

Saístes a ver no deserto um caniço agitado pelo vento (Lc 7:24)? Está procurando a coisa errada, no lugar errado.

Edifique a casa sobre a rocha (Mt 7:24-25). Cave até encontrar a rocha segura e firme para que a tua casa seja resistente.

A árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus (Mt 7:17). É preciso experimentá-los para selecioná-los.

Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte (Mt 5:14). Pelo contrário. É o local que todos podem ver.

A candeia do corpo são os olhos (Mt 6:22). Olhos maliciosos e cobiçosos gostam e se alimentam das trevas.

E a vida era a luz dos homens (Jo 1:4; 3:19; 8:12). Viver é irradiar o dom do Senhor.

A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela (Jo 1:5). Nada há oculto que não seja descoberto (Lc 12:2).

O céu é mais alto do que a terra, os meus caminhos mais altos do que os vossos (Is 55:9). Entenda a miserável pequenez humana.

 Os profetas de Deus não tinham o conhecimento que temos hoje, mas tinham olhos abertos para ver e tirar lições da criação, reconhecendo nela a grandeza de Deus.

Jesus soube usar a obra criada por ele para ilustrar a simplicidade de sua mensagem, tal qual estava ali, flagrante aos olhos que veem.

Na verdade, não precisamos de mais exemplos, mas de olhos. Não podemos estar cegos frente a majestade do conhecimento de nosso Deus. Enquanto estivermos procurando o conhecimento de Deus em palavras, em livros, continuaremos cegos.

 Olhos e ouvidos espirituais são características de um corpo espiritual. E o corpo espiritual é uma dádiva, um dom dado por Deus. Não somos nós que o produzimos. É o novo nascimento, do Espírito, que te dá um corpo espiritual, uma mente espiritual e uma aspiração espiritual para conhecer o mundo celestial, o Reino de Deus. É o início da vida, em Cristo, nosso Senhor.

A Palavra de Deus provém da realidade absoluta de Deus.

A Palavra de Deus é exatamente o que sai da boca de Deus.

A primeira palavra que saiu da boca de Deus foi “haja luz”.

A Palavra de Deus veio aos filhos de Israel por meio dos profetas de Deus.

Noé ouviu a Palavra de Deus e se tornou real no encher das águas.

A Palavra de Deus está escrita no coração dos que creem (Lc 8:12, Hb 8:10; 10:16)   .

A Palavra de Deus é a Verdade (Jo 17:17).

A Palavra de Deus não sai da boca humana (Mt 4:4; Lc 4:22).

A Palavra de Deus veio a nós por meio do Filho Jesus, o Cristo, Salvador (Jo 12:49,50).

A Palavra de Deus vem a nós por meio do Seu Espírito e com Poder (Jo 3:34; At 4:31; 16:6; 1Co 2:13).

A Palavra de Deus é quem nos julgará (Jo 12:48).

O Espírito e a Palavra são UM (1Jo 5:7).

Todas estas declarações, constantes na bíblia, não nos assegura que a bíblia seja a Palavra de Deus. Ela relata a Palavra de Deus, mas não a é. Ela é apenas um objeto, um livro, assim como este e outros tantos milhares deles.

Excluir a bíblia não é excluir a Palavra de Deus. Aqueles que não a tinham para poder consultar, não estavam excluídos da salvação, pois o Espírito estava presente, as ensinava e salvava.

Além disso, não é o conhecimento histórico que proporciona a salvação da alma, mas a presença do Espírito de Deus em nossos corações. De que serve o conhecimento se não se tem o Espírito? É o Espírito que vivifica; a letra é morta (2Co 3:6).

※ ※ ※


[1] As aspas representam o termo em sentido figurado, pois, como Deus não tem corpo, também não tem boca.

[2] Depois de Cristo, ou depois da era comum.

[3] Para Deus não existe o tempo terreno, apenas eternidade.

[4] As aspas representam o termo em sentido figurado, pois, como Deus não tem corpo, também não tem boca.

[5] “ENVIADO”: um dos significados da palavra hebraica “MESSIAS”, que traduzida para o grego é “CRISTO”.