Programas na Igreja

Acompanhe este ensaio, mas não se escandalize.

Pedro: — Mestre, qual é a programação para esta semana? Vamos ter almoço comunitário?

Jesus: — O Senhor proverá, Pedro.

Pedro: — Se tivermos, teremos de avisar o departamento financeiro, para que o diretor Iscariotes possa providenciar a compra de dois pães e cinco peixes. Também, teremos de avisar o departamento de materiais para fornecer os cestos para as sobras.

Jesus: — Humm.

Pedro: — Também preciso comunicar ao departamento de relações públicas para que se faça a devida divulgação.

Pedro: — Poderemos ter a campanha de curas para a semana que vem?

Jesus: — O Pai é quem decide, Pedro.

Pedro: — Em todo caso, vou preparar o pessoal para uma jornada passando pelos tanques de Bethesda e de Siloé. Também, pelo caminho de Jericó e depois, para a província dos Gadarenos, até Nazaré. Pode ser que antes passemos pela aldeia dos leprosos e por Samaria, para abastecermos com água.

Jesus: — É um longo percurso.

Pedro: — Sim, não posso esquecer de providenciar mulas, no departamento de transportes.

Jesus: — Estás muito ansioso, Pedro.

Pedro: — Poderemos programar a campanha de avivamento para a outra semana, então.

Jesus: — Aquiete-se, Pedro. Basta a cada dia o seu mal.

Pedro: — É que o Senhor precisará preparar o sermão para o templo e um discurso para Betânia, para os conhecidos de Lázaro.

Jesus: — ???

Pedro: — Mestre, já estou pensando, também, na campanha da fraternidade e no encontro de mulheres. Vou ter de preparar o departamento feminino e os grupos de oração, porque podemos aproveitar que já estaremos na casa de Lázaro. 

………..

Este momento de diálogo se torna muito estranho, para não dizer ridículo, quando envolvemos nele o Senhor. Porém, não soa estranho ou ridículo quando ouvimos coisas semelhantes nos salões de igrejas.

Esta estranheza é a reação que indica que algo este errado, que algo não está em conformidade com a mensagem que o Senhor pregou, não porque as intenções não sejam as melhores, mas porque, tanto neste ensaio, quanto na vida real, as iniciativas não partem do Senhor, mas do homem.

Percebe qual é o ponto a que quero chegar?

Ser guiado pelo Espírito e não, pelo nosso querer.

No histórico de caminhada do Senhor, enquanto entre nós, ele pregou o seu evangelho, ele curou a muitos, ele libertou a muitos, ele realizou maravilhas, apenas saindo porta afora, sem uma programação definida. O Pai trouxe até ele aqueles que a ele foram dados, enquanto caminhava segundo a direção do Espírito (Jo 6:44,39; 17:12).

Ser guiado pelo Espírito é a condição que o Senhor deseja em nós, pois ele é o senhor da missão de resgate e precisa de nós, como instrumentos em suas mãos, disponíveis e dispostos a servi-lo. É ele quem sabe o que quer, o que precisa fazer, onde, quando e o como deve ser feito.

Se somos membros de seu corpo, ele, a cabeça é quem decide e nos estimula à ação segundo a sua intenção. É a cabeça que estimula as mãos a se moverem, para o lado que a cabeça quer, com o movimento que a cabeça quer, com a tensão muscular que a cabeça considera suficiente, quando deve se mover, ou que não deve se mover. Tudo é dela, por ela e para ela.

A mão não pode achar que está sendo usada demais, ou que deve se mover conforme acha ser melhor, ou negar de se mover, porque não está disposta, ou ainda reclamar porque a outra mão não está ajudando.

Parece absurda a comparação que estou fazendo, mas é exatamente isto que ocorre entre os que se dizem crentes em Jesus, nas religiões cristianizadas. Basta olharmos para o calendário de programações de qualquer instituição religiosa e encontraremos o homem decidindo as coisas por Deus, sobre coisas que nada tem a ver com Deus.

Basta participarmos de um evento religioso e veremos que o homem é quem escolhe quem vai fazer alguma coisa, quando vai fazer, porque vai fazer e como vai fazer. Desde a escolha de quem vai pregar, quem vai tocar, quem vai cantar, quem vai dirigir os procedimentos, quem vai receber na porta e quando, e como tudo isso vai acontecer. O pregador decide o tema e o teor do discurso. O cantor decide as músicas e os cânticos. O instrumentista decide qual instrumento quer tocar naquele evento. O porteiro decide quem vai entrar e onde vai sentar. O diácono decide se deve acordar, ou não, o dorminhoco. Só quem nada decide são os ouvintes, os espectadores deste espetáculo de decisões humanas. Na verdade, eles só podem decidir se ficam ou se vão embora, caso o evento seja, ou não, conforme o que esperam ou desejam.

Quando se trata de evangelismo, tudo se repete. Quando sobre missões, repete-se novamente.

No evangelismo, alguém decide onde, quando e a hora que vai acontecer, o número de pessoas que vão participar, o material que vão distribuir, quem será o preletor, qual será o tema da mensagem a ser anunciada, o tempo que durará o evento e a meta de pessoas a ser alcançada.

Quanto às missões, haverá quem decide se serão nacionais ou internacionais; quem serão os enviados, o material de que vão necessitar para a distribuição, quando iniciará, quando terminará, quanto será o custo, qual será o tema central e qual a meta de pessoas a ser alcançada e de quanto será a reserva para eventualidades.

Tudo parece muito organizado, muito bonito, mas completamente fora da forma como o Senhor age e da forma como ele quer que nos apresentemos a ele.

Precisamos entender que não somos nós que devemos ir até as pessoas, mas é o Senhor quem as traz até nós.

Você sabe quem são estas almas que pertencem ao Senhor?

Você sabe quando e onde o Senhor quer que as encontremos?

Você sabe como o Senhor quer que as abordemos?

Você sabe qual será a reação daquela alma ao ser abordada e qual será a tua reação?

Convenhamos, nós não sabemos nada, sobre nada. Se não nos colocarmos inteiramente à disposição do Senhor para que ele nos use como ele quer, estaremos nos colocando à disposição do adversário do Senhor, para fazermos o que o Senhor desaprova, utilizando-se do nosso querer.

Se não descansarmos inteiramente no Senhor, se não depositarmos nele toda a nossa confiança, se não esquecermos de nós, nunca seremos instrumentos de resgate.

Lembremos que não somos aquele quem morreu na cruz e derramou o sangue para o perdão dos pecados. Não somos nós que faremos o resgate da alma. Somos apenas instrumentos que abrem a boca e deixam que o Senhor fale as suas palavras de salvação. A missão é dele e não nossa. O encontro e a conversão das almas são do seu mérito, para a glória do Pai.

Quando o Senhor comissionou seus discípulos, ele disse: “ide, fazei discípulos de todas as nações” e “eis que eu estou convosco todos os dias” (Mt 28:19-20). O comando ide significa para se mover, levantar da poltrona e sair. Nada mais, pois a partir daí ele estará conosco a todo momento e será ele quem realizará a sua missão. E os sinais te acompanharão, pois é ele quem operará as maravilhas (Mc 16:17).

Na verdade, o Senhor não precisa tanto de nós, pois das pedras ele pode suscitar filhos para realizar sua missão, ou ainda ele mesmo pode se revelar por meio de sonhos e visão àqueles que lhe pertencem, como aconteceu com Paulo e tem acontecido nos povos mulçumanos.

Nós é que precisamos que ele nos use, para que sejamos servos úteis e fiéis. Nós é que devemos sentir profunda gratidão por termos recebido esta celeste graça. Nós é que necessitamos de voltar ao seio do Pai e vivermos a vida eterna, tal como vivíamos antes de virmos a este mundo.

Nós não somos nada, a não ser aqueles que menos merecem e que mais precisam.

Se não fosse pela graça do Senhor, pelo seu sangue remidor e pelo seu Espírito Santo que nos chamou e nos selou e se colocou como penhor de sua herança, estaríamos já condenados ao lago de fogo. Talvez já tivéssemos sido eliminados definitivamente, e não mais existiríamos.

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