Sermão, Profecias e Pregação

De todos os rituais e procedimentos que encontramos no cristianismo e que tem presença marcante, cadeira cativa nos encontros das religiões cristãs, estes são aqueles de maior expressão e efeito, alcançando as pessoas e as influenciando no seu conhecimento e sentimento devocional.

O sermão, conhecido também como pregação, é um meio de exposição e exibicionismo das qualidades e capacidades do homem, promovendo a exaltação do ego.

Na igreja original, no início da era cristã, não havia o que chamamos de sermão. Havia a pregação do evangelho para os descrentes, realizada pelos apóstolos, e a exortação da comunhão para os crentes fracos na fé.

A pregação era realizada pelas testemunhas do Senhor, anunciando o Evangelho e a pessoa do Salvador Jesus aos descrentes. Eles relatavam às pessoas os feitos, os ensinamentos, as parábolas, a vida, a morte e a ressurreição do Senhor, sendo a sua ressurreição a demonstração maior da sua essência divina, como filho de Deus e redentor dos homens. Em seu nome eles pregavam o arrependimento, a remissão dos pecados e a promessa da vida eterna, pois assim lhes foi determinado pelo Senhor (Lc 24:46-48).

A exortação era dada à igreja pelo Espírito, através de profecia, para confortar na perseguição e no sofrimento, para denunciar o pecado oculto na comunidade dos crentes e nutrir o amor de Deus neles.

A profecia de então, não tinha nada a ver com o termo “profecia” de hoje, da qual se fala muito no mundo gospel do cristianismo. Esta não passa de adivinhações futurísticas, mensagens de exortação da autoestima, e no pior dos casos, de possessão demoníaca, ao ser relatado eventos da vida das pessoas.

No AT[1], a profecia vinha de Deus aos homens escolhidos e separados por Ele para esta missão. Eles eram chamados de profetas, os Seus servos, e esta chamada revela o que é ser, realmente, servo.

Após a ressurreição do Senhor e a descida do Espírito Santo, não houve mais a necessidade de se escolher e separar apenas uma pessoa para ser profeta. O Espírito Santo podia agora se manifestar em qualquer dos verdadeiros crentes, por meio do espírito de profecia.

O Espírito é quem fala por si mesmo através do instrumento que ele escolhe. O Espírito foi o que o Senhor pediu ao Pai, para que viesse após ele subir aos céus (Jo 14:16).

A profecia acontecia quando os crentes se reuniam, seja para terem suas refeições, ou para atender as necessidades uns dos outros, ou por sofrerem perseguições. Esse comportamento de se reunirem era muito comum entre eles e por causa desse proceder, muitos incrédulos vendo um amor diferente fluindo entre os crentes foram atraídos e convertidos à fé em Jesus (At 2:43-47). Vemos que o encontro não se tratava de um momento festivo, mas de uma necessidade.

Porém, quando eles estavam reunidos, ninguém sabia quando, ou se o Espírito Santo iria se manifestar em profecia. Por isso, os crentes que iam aos encontros se aproximavam com o coração puro, em temor e tremor. Se entre eles houvesse uma motivação que desagradasse a Deus, todos sabiam, sem sombra de dúvida, que haveria repreensão e até morte, como aconteceu com Ananias e Safira (At 5:3-10).

Esta era a forma como o Senhor santificava em seu corpo. Ele se manifestava, por meio do seu Espírito, em profecia e revelava os intentos dos corações desobedientes. O erro ou pecado era denunciado, a exortação para a correção era apresentada, para conhecimento de todos, e a punição era aplicada, se assim o Espírito Santo julgasse. Nada ficava oculto, nem sequer uma leviandade carnal ou aparência de santidade.

Logo, uma profecia representava Deus, o Espírito do Senhor falando, a Palavra de Deus para aquela hora. Veja bem, repito, era Deus falando. Não era um homem, ou uma mulher falando.

Mas, como se pode discernir se é Deus mesmo, falando?

A resposta é simples. Quando Ele fala, Ele revela os segredos do coração, o pecado oculto. Ele não conta uma história bonita, ou dramática, para comover as pessoas e faze-las chorar, ou divertida, para fazê-las rir. O pecado não é motivo para piada. Ele odeia o pecado e não perdoa o pecador que blasfema (Hb 4:12; Mt 12:31).

Quando Ele fala, não se repete, ou seja, se Ele já disse, não falará novamente. Ou será sim, ou será não (Mt 5:37). Não pense que Deus é papagaio.

Ele não fica de rodeios; Ele vai direto ao assunto. Ele não usa a técnica de introdução, escopo e conclusão. Ele elogia a obediência, depois repreende a desobediência, então aplica a correção e, por fim, dá a recompensa, ou seja, a paz e o conforto espiritual para os que são dignos.

Ele usa qualquer pessoa; homem, mulher, criança, jovem ou velho, até animais. O único requisito, da sua parte, é que a pessoa seja glorificada e santificada nele, cheia dele, porque é o seu Espírito que se manifesta, e ele não tolera a iniquidade.

Não há quem seja previamente designado para falar, assim como um dia designado para falar, ou um tema específico para falar. Portanto, não há como preparar temas para o discurso e nem tempo para estudar um tema “propício” para aquele momento.

Quando Ele escolhe uma pessoa presente para ser o Seu porta-voz, aquela pessoa apenas abre a boca e as palavras saem. Ele não pede “silêncio, por favor”, tão pouco se desculpa por não ter instrução ou por não saber falar bem, ou por qualquer outro motivo. Ao falar, não há quem não reconheça a presença do Espírito do Senhor. É possível ver ele falando, o Senhor em pessoa. Não há quem não sinta a sua unção. Suas palavras não soam nos ouvidos; elas ecoam na alma. Elas remexem tudo no coração e tiram o pecado para fora. As pessoas se sentem tão mal por causa dos seus pecados que se arrependem, e clamam o seu perdão. Não precisam ir à frente para confessar seus pecados, ou receber uma oração de aceitação. O Senhor já as tem ouvido e perdoado, onde quer que elas estejam, pois, a alegria da alma é evidente no crente perdoado. O refrigério da alma, o gozo do espírito, pela aceitação do Senhor os enche de júbilo, paz e esperança.

Quando o Espírito fala, as pessoas, quando voltam para suas casas, não estão alegres, fazendo brincadeiras, contando piadas, ou à gargalhadas, mas, meditando em seu coração sobre a profundeza da palavra que lhes foi revelada. Um gozo toma conta delas por terem sido aprovadas, ou reprovadas no seu erro. E este gozo lhes dá uma paz tão profunda que dura, dura … , nunca acaba. Não precisam de um outro encontro para voltar a sentir aquela paz. Sentem um prazer celestial e não veem a hora de poder estar juntos novamente.

O teor de Sua Palavra não é a leitura repetitiva de textos. Não são previsões futurísticas. Não são mensagens para elevar o moral. Não são adivinhações e muito menos para dizer o que você fez ou deixou de fazer ontem, na semana passada, onde, e tal lugar, com esta ou aquela pessoa.

O maligno é astuto e espião. Ele sabe de todas estas coisas que você faz e pode muito bem, através da possessão demoníaca, usar alguém que você não conhece, para te contar, particularmente ou publicamente, o que você faz ou fez. Assim você vai ser enganado facilmente e perder a tua salvação.

Excelente estratégia, não?

Mas ele não sabe o que você pensa ou o que você sente, desde que você não expresse exteriormente, em forma escrita, falada ou gesticulada. Se você fez ou disse para alguém ou escreveu em algum lugar, então você está enrolado na trama dele.

 No cristianismo, devido à ausência do Espírito, o homem substituiu a profecia pelo que ele chama de sermão, ou pregação. Não temos mais a verdadeira profecia, mas a falsa prolifera em púlpitos, pelas igrejas afora.

Hoje, o sermão não passa de uma palestra, um discurso. É alimentado com a beleza de palavras, apresentado com a eloquência de um orador, figurado pela postura austera de autoridade e recheado com o apelo emocional. Tem o apoio da dramatização, da música de fundo, da entonação ou intensidade de voz diferente da normal, e de recursos visuais, entre eles, o traje formal, impecável, diferenciado, digno de uma autoridade institucional, com o qual o preletor se apresenta.

É o momento onde se exercita a retórica, a oratória, a postura de voz, a gesticulação, assim como firma-se a autoridade eclesiástica e sedimenta-se a imagem de “homem santo” ou “homem de Deus”.

É usual encontrar fetiches de vaidade nos discursantes homens, bem como nos presentes, tais como bigode, cavanhaque, costeletas e até cabelos compridos, bem recortados, alguns imitando executivos e outros, jogadores de futebol. Além do terno e gravata bem alinhados, alguns caros ou da moda, costumam utilizar artigos tecnológicos como notebooks, projetores para auxiliar as suas apresentações e bíblias poliglotas, para exibir seu conhecimento linguístico, ao mesmo tempo em que pretende conferir autenticidade e profundidade nas suas proposições.

Quanto aos preletores, mulheres, o modelo é o mesmo, porém há o agravante da exposição de seus corpos femininos por causa de seus trajes indecentes, extravagantes, sem nenhuma modéstia, praticamente seminuas, com adornos e maquiagem proeminentes, tais como as mulheres do mundo.

Ambos focam em mensagens impactantes que exploram a debilidade da personalidade humana e a fragilidade das almas que desconhecem sua verdadeira identidade. Buscam seus temas em manuais de pregações, na Internet, nos grupos para pregadores, nos seminários, porque consideram que a bíblia não é suficiente e não se aprofunda no conteúdo que querem apresentar. Eles precisam fazer melhor. Usam a técnica de sugestão e manipulação mental coletiva. Eles aprenderam no mundo secular que a repetição exaustiva ou autoafirmação leva uma pessoa a aceitar o que antes considerava absurdo. Por isso é que os ouvimos insistirem que os presentes repitam palavras e frases de afirmação e sempre asseguram a sua superioridade espiritual, cobrando o “amém”.

Leem trechos de outros autores que consideram experts, autoridades no assunto, como os pais da igreja, para preencher uma falta de conteúdo, e gostam de entremear seu discurso com palavras ininteligíveis, ditas línguas estranhas, que não são compreensíveis, pois não são do nosso idioma, ou de qualquer idioma.

Contam estórias dramáticas que são adequadamente preparadas para tocar, comover as pessoas. Alteram a entonação de suas palavras para parecer melancólicas, suplicantes. Fazem uso de forte apelo emocional. Hipnotizam as pessoas com palavras e mais palavras, oferecendo um alimento velho e apodrecido, desprovido da substância espiritual que sacia a fome que as pessoas tem, das coisas de Deus. Por isso, as pessoas precisam sempre estar voltando para buscar um nutriente que, sem saber, nunca será oferecido.

Tem um apreço pelas histórias, pela sabedoria e mensagens dos profetas do Antigo Testamento. Usam os escritos dos apóstolos para reforçar conceitos, regras, mandamentos e procedimentos do Antigo Testamento, pois lhes é conveniente, também receber o proveito que era recebido pela classe eclesiástica daquela época. Estão ofertando um alimento envelhecido, podre. Um alimento que já foi comprovado pelo Senhor, não ter tido o efeito de justificação que lhe era proposto, devido à dureza do coração do povo daquela época. Porém, insistem na continuidade de seu uso, pois são histórias interessantes e convenientes aos seus interesses.

Depois, no final, fazem, insistentemente, um apelo descarado às pessoas, para que doem dinheiro ou bens. Qualquer importância é bem aceita; qualquer bem é bem-vindo. Negociam suas mensagens, em nome de Deus, como um produto de barganha, de venda e lucro.

Ainda mais constrangedor é o apelo que fazem para que as pessoas fiquem em pé, ou levantem a mão, ou se dirijam até à frente para aceitar a Jesus, em seu coração, como seu Senhor e Salvador, pois estes são um troféu pelo seu trabalho.

Que forma esplêndida de fortalecer sua autoridade e superioridade espirituais!

Que estratégia magnífica de sustentabilidade!

 E tudo isso é feito em nome de Deus, para o benefício da organização religiosa que, no final das contas, redunda proveito próprio e deleites.

Suas atuações são desempenhadas no palco da hipocrisia. Com certeza, Deus não tem nada a ver com toda essa performance.

São filhos da perdição, cegos guiando cegos. São pobres desgraçados, miseráveis, cegos e nus. E não sabem (Ap 3:17). Alguns até sabem.

Você pode dizer que nada disso é verdade, que não passa de delírio da minha mente, mas não é. É o que qualquer um pode ver com seus olhos naturais. A questão é, por que não veem com os olhos espirituais?

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Existe um outro questionamento sobre o tema pregação que quero apresentar. Trata-se da questão do gênero do preletor, ou seja, ser do sexo masculino ou feminino.

No cristianismo, até o século passado, a maioria geral das religiões não permitia que mulheres fossem indicadas para a função de pastores ou pregadores, ou que pudessem levantar para falar na igreja. A razão de ser desta prática, que acabou sendo uma doutrina, é a orientação que foi dada por Paulo, tal como acontecia no judaísmo (1Co 14:34-35).

Tendo já lido o contexto, eu convido o leitor a pensar.

E se não houver homens no ajuntamento? Deus não vai poder falar? Ele terá de ver o pecado e ficar mudo? Amarrado? Impedido por uma declaração paulina?

Ou será que o pecado só acontece com os homens e, portanto, só homens podem ser usados para falar sobre?

E se houver apenas um homem presente, porém em pecado consciente, terá de levantar para falar contra o pecado, se ele mesmo está em pecado?

Hoje me dia, é praticamente impossível haver homens sem pecado consciente, nas igrejas.

Ou será que as mulheres não podem, ou não devem se reunir, já que nenhuma delas pode se levantar para falar?

Ou, o que acontece com mulheres solteiras, viúvas ou órfãs? São excluídas de aprender, já que não tem marido ou pai para ensiná-las em casa?

Ou será que Paulo foi infeliz ao tocar neste assunto e não mergulhar a fundo?

Ainda, será que esta questão é irrelevante e não tem nada a ver com a salvação da alma e com o que o Senhor recomenda?

Da forma como Paulo se expressou e o cenário onde ele estava inserido, quando precisou falar sobre esta questão, faz nos levantar todos estes questionamentos, pois ele não se aprofundou na razão de ser de sua declaração.

Por esta razão, o cristianismo acabou numa confusão de procederes que foram feitos doutrinas e dogmas conflitantes que até hoje apenas geram dúvidas sobre o assunto. Precisávamos ter estado lá, para sentirmos qual era a realidade espiritual e carnal, desse grupo em particular, pois lemos que os assuntos envolvendo as mulheres e a fornicação foram mais corriqueiros do que imaginamos, de tal forma que nem ainda entre os gentios se nomeava (1Co 5:1).

É impossível para nós, hoje, termos certeza dos acontecimentos. Tudo o que podemos fazer é levantar conjecturas e fazermos suposições que, seguramente, não corresponderão à verdade dos acontecimentos.

Este é o grande problema que temos hoje, ao lermos qualquer tipo de registro antigo. Temos somente nossas interpretações, nossas suposições e até adivinhações.

Dos questionamentos que apresentei acima, o último deles é o que me parece mais coerente, na minha interpretação, pois mostra a alienação divina nesta questão. Em outras palavras, o Senhor nada tinha a ver com o que estava acontecendo, pois a apostasia já havia se infiltrado naquele grupo. Nem mesmo a manifestação do poder do Espírito, por meio de Paulo, podia converter o coração dos iníquos. Todos eles já sabiam como o Senhor agia, pois o Senhor já havia falado como ele se manifestaria, como o seu Espírito atuaria, a forma, o momento, o lugar e o propósito da sua manifestação, porém, como não obedeciam ao Espírito, este os largou à própria sorte. O Senhor os houvera entregado à sua própria perdição (Mt 10:19; Mc 13:11; Lc 12:11-12; Jo 14:16-17,26; 15:26; 1Co 2:12).

Portanto, esta questão do gênero é uma invenção do homem e o Senhor nada tinha e nada tem a ver com. É uma iniciativa humana, proveniente deste mundo que dera poder ao homem e, nos últimos tempos, vem empoderando a mulher, para o caminho do erro. É o adversário de Deus agindo segundo a sua agenda de engano e morte espiritual.

Tanto o homem, quanto a mulher não precisam de ser empoderados, pois cada um tem um papel no mundo terreno, com funções diferenciadas, definidas por Deus. Ao homem, é a força para prestar e garantir a honra, a proteção e manutenção do vaso mais fraco, como coerdeiro da graça da vida. À mulher é a participação, com Deus, na herança da graça da vida (1Pe 3:7). Nada vai ou pode mudar estas condições, nem mesmo o desvario das mentes doentias, distorcidas pela influência maligna.

Seguir os caminhos do mundo e os desejos da carne é fácil, pois já está na natureza humana. Seguir o caminho do Senhor exige esforço de consciência, força de vontade, persistência na erradicação do mal costume, ou do mal hábito, seja do fazer como do pensar, para desenvolver, espontaneamente, atitudes e comportamentos do bem. Em linguagem popular, fazer o que é errado é muito mais fácil do que fazer o que é correto.

De tudo o que tenho exposto nos temas que tenho apresentado, a minha ênfase tem sido para a natureza espiritual do Evangelho, a natureza espiritual da nossa adoração e a manifestação do Espírito Santo nos chamados do Senhor, para a edificação espiritual da igreja.

Lembremos que no ajuntamento dos crentes, ninguém tinha a supremacia sobre os demais. Ninguém tinha o dever ou a incumbência de guiar ou dirigir os demais, pois o Espírito era quem estava na direção. Portanto, quando o Espírito decidia por uma intervenção, ele escolhia a quem usar e a profecia vinha endereçada a todos, em particular àquele cujo pecado moveu o Espírito para a ação. Quando isto acontecia, todos sabiam que haveria libertação ou remoção. O resultado da intervenção do Espírito era para a vida, ou para a morte. Nunca era para trazer uma mensagem bonita, ou dramática.

Lembremos, ainda, que o Espírito falava individualmente com os crentes e todos cresciam espiritualmente. Não era necessária uma exortação coletiva, a não ser quando a ação atingisse a todos, como um pecado oculto que envolvesse o grupo.

Assim, a ideia, ou a iniciativa de uma pessoa se levantar, ou ser levantada, para trazer uma palavra de exortação, ou de correção, é de origem maligna e não, do Senhor.

O homem não é capaz de saber do que está oculto no coração das pessoas. Não tem como ele falar nada, sem saber o que está se passando no coração do povo. Tudo o que pode fazer é adivinhar ou supor na sua mente, sem nenhuma confirmação do Espírito. Por esta razão, não é o homem quem deve decidir por esta ação e, em assim o fazendo, fica flagrado a ausência do Espírito, tanto naquele que fala, quanto naqueles que ouvem, pois aceitam a mentira que sai da boca de outro deus.

Logo, a questão do ser um homem ou uma mulher, a se levantar para anunciar um sermão, é de natureza puramente carnal, proveniente da ação humana, desprovida de qualquer respaldo ou aprovação do Senhor. Na verdade, não é para ninguém levantar para falar, seja homem ou mulher. Não é nossa atribuição, não é a nossa missão ou obra. O Espírito é quem deve se manifestar, pois ele sabe da necessidade e de quem pode ser seu instrumento.

Não se admire se não houver ninguém para ser usado, o que é mais provável que aconteça, considerando a condição lamentável e desesperadora da vida de pecado das pessoas, hoje em dia. E se é assim a condição das pessoas, é certo que o Senhor estará afastado delas e que ele não vai usá-las.

Este é o cenário perfeito para que o maligno venha usar as pessoas para enganar ainda mais almas. Lamentavelmente, todos serão enganados e o receberão como sendo de Deus, só porque estão em uma igreja, porque estão lendo a bíblia e falando das coisas de Deus.

Não esqueçamos que muitos dirão naquele dia: “Senhor, nós pregamos nos púlpitos a tua palavra, nós cantamos e louvamos o teu nome com muitos hinos, tocamos nossos instrumentos para a tua glória, saímos para a evangelização nos programas da igreja, doamos nossos dízimos e ofertas para a tua obra, trabalhamos na organização e nos serviços da igreja e declaramos, em alta voz, o teu poder e a tua glória (Mt 7:22).

Pois é, fazem tantas coisas, mas não a vontade do Pai. Mesmo que estejam profetizando em Seu nome — se é que sabem qual é o seu nome — que estejam expulsando demônios e fazendo muitas maravilhas, ainda sim, seriam praticantes de iniquidades (Mt 7:21,23).

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Foi dito que o espírito de profecia é a ação do Espírito Santo e é ele quem usa um instrumento para dar o testemunho de Jesus Cristo.

Foi dito que nenhum homem, ou mulher, pode se levantar na igreja para falar por Deus se não for escolhido pelo Espírito.

Foi dito que o Espírito fala com todos, individualmente, não tendo a necessidade de se manifestar coletivamente.

Foi dito que o Espírito não se repete naquilo que já ensinou.

E por que é que somente o Espírito é quem pode falar, ou se manifestar (Jo 6:63)?

Será que a iniciativa humana não tem espaço para fazer algo que seja do acordo do Senhor (1Pe 1:24-25)?

A resposta é simples.

Nestes últimos dias, somente ao Filho, Jesus, foi dado falar a Palavra de Deus (Hb 1:1). Ele a recebeu diretamente do Pai e nos falou o seu Evangelho, razão porque se torna a Palavra de Deus para nós. E a sua palavra é suficiente para a nossa salvação (Jo 5:40-44; 8:43, 47).

Só quem foi enviado por Deus é quem pode falar a Palavra de Deus (Jo 3:34). Nenhum homem pode ser portador da Palavra de Deus, pois ela não pertence a ele e tão pouco é oriunda dele (1Co 14:36).

O Evangelho, a palavra do Filho, é suficiente para a nossa salvação. Não necessitamos mais de nenhuma outra palavra, seja a dos apóstolos, seja a de qualquer outro homem, ou mulher que pretenda falar por Deus. Foi o que o Senhor já nos havia dito por meio do profeta Isaías e nos relembrou por meio dos apóstolos (Is 54:13; Jo 6:45; 1Jo 2:27; Hb 8:11).

A comissão que os apóstolos receberam foi para pregar o Evangelho do Senhor. Não foi para eles pregarem o evangelho que eles entenderam, se é que o entenderam, mas aquele evangelho que o Espírito os lembraria e nas palavras que o Espírito colocaria em suas bocas. Por isso eles eram embaixadores do Senhor.

Esta é diferença entre um sermão e a pregação. O sermão é invenção humana e não tem valor para o Senhor. A pregação é do Espírito, falando a Palavra de Deus.

Esta é a razão para não haver necessidade do sermão, ou pregação, do homem, pois os crentes são ensinados, cada um, pelo Espírito e não, pela palavra de homens. Não há a necessidade de um irmão ensinar outro irmão (Hb 8:10-11).

A pregação só existe se o Espírito usar uma pessoa para anunciar os ensinamentos do Senhor, o seu Evangelho, aos descrentes. É desnecessária para quem já crê, ou, um dia, creu e se desviou.

Precisamos ter muito cuidado ao aceitarmos a pregação do “evangelho” de Paulo, como sendo substituto do Evangelho do Senhor Jesus. Não é e não pretendeu ser. O fato dele ter dito que recebeu diretamente do Senhor não lhe deu autoridade para falar por Deus, porque esta autoridade pertence unicamente ao Senhor e a ninguém mais ((Mt 28:18-20; Gl 1:15-16). Eram suas palavras e somente poderiam ter sido creditadas, como sendo do Senhor, quando o poder do Espírito as vindicasse, confirmando com sinais sobrenaturais (Rm 15:18-20). As afrontas e repúdios que ele sofreu ao pregar foram muitas e precisou da ousadia e do poder do Espírito para enfrenta-las, levando-lhe a se posicionar com autoridade, para silenciar o adversário de Deus.

Quando Paulo se referia ao seu evangelho, não era apenas uma força de expressão. Ele podia estar realmente falando que era seu o evangelho que pregava e não, o do Senhor Jesus.

Caro leitor, não seja enganado. Só o Senhor Jesus é confiável e digno de confiança. Ninguém mais! Todos são humanos, falhos, passíveis de errar e, a ânsia pelo poder, pode levar muitos ao erro e ao engano.

Prove os espíritos, assegure-se de que é o verdadeiro Espírito, o de Cristo, que te fala, pois haverão de se apresentar muitos falsos cristos e falsos profetas e enganarão a muitos (Mt 24:11).

Quanto à pregação do Evangelho, observemos que se trata apenas de anunciar o Evangelho, os ensinamentos que Jesus nos deixou. Os apóstolos deviam ensinar o que eles receberam, conforme o Espírito lhes mostrasse (Mt 28:20). Apenas deixar o Espírito entregar os oráculos de Deus, segundo o Evangelho do Senhor (1Pe 4:11). Não tem nada a ver com ensinar o que eles pensavam ou entenderam das coisas de Deus.

Nosso aprendizado e conclusões não têm poder para salvar, mas o Evangelho, sim. Se for da parte do Espírito, ele vai prover a prova, por meio do sobrenatural, ou do testemunho de Jesus Cristo. Caso contrário, é da parte do maligno.

Outrossim, a pregação do Evangelho tem de suscitar a fé dos ouvintes, no Senhor Jesus, leva-los ao arrependimento da sua condição pecadora e condenada, e a clamar pela sua aceitação no corpo do Senhor. Caso contrário não terá proveito, não será para a salvação da alma (Hb 4:2).

A fé em Deus, o Senhor Jesus, é dom do Espírito e, portanto, somente o Espírito e a Palavra, é que podem despertá-la (Ef 1:13; 2:8). Não é o discurso, o particular entendimento, a conclusão a que se chegou, ou o apelo coletivo.

A Palavra de Deus é a única que nos faz ouvir, nos dá entendimento. A fé, por sua vez, vem pelo ouvir da Palavra (Rm 10:17).

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[1] AT – Antigo Testamento